sábado, 17 de novembro de 2007

Prurido

Como se fez um desejo. Como haveria de se fazer uma reação de um desejo.
Você está trancafiado em você, em cofres, você se resguarda, noite a dentro não se vê você passar, nem se ouve sua voz cantando Maysa, a canção do amor mais triste. Como se fez um desejo, você se resguarda hoje e amanhã, talvez até se desatar dessa ausência no seu peito. Bota uma música pra tocar e dance. No piso mais alto do prédio em que você mora, você resiste em se jogar de lá. Você resiste em dizer que a lua tá bonita. Como se fez desejo, há uma prisão que o envolve, há um saco de beijos banidos que você botou na lixeira. Há e não há. Você dança na pista da noite mais clara pela lua, toma sua cerveja e pensa em Marguerite Duras. Você pensa em sexo, e se trancafia com alguém num banheiro. Você depois não dorme bem. Como se fez desejo, você pensa em artes plásticas e naquelas tintas todas sobre seu corpo volúvel, instável, magmático, enigmático, fatigado, metropolitano... Você vai tomar suco e comer um cheeseburger sozinho ou acompanhado não importa, pois o vácuo da sua expressão será fonte do seu pensamento, e uma instropecção longínqua que você namora. Você mora com a sua fatalidade. Você namora seu pôr-do-sol toda tarde e seu espelho de moldura barroca. Você vai se trancafiar de novo, e botar seu coração num cofre, ou então deixá-lo perder em meio à Revolução tal como o pequeno príncipe francês, 1789. Você vai se resguardar e repetir os mesmos erros. Você se deixaria embalar pela canção da Maysa? Você se fecha. Você vocifera. Você.

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