sábado, 17 de novembro de 2007

seule

sussurrou palavras em francês, um francês bem ruim, dizia-se seule tão infinitamente na sua. Ficou parado durante dias naquela posição de morto, talvez sem respirar. Nasceram asas e uma outra vontade nele, voar, voar. Sussurrou algumas outras palavras em francês tristesse, e abaixou a cabeça sem se deixar ouvir. Não queria acordar o sono dos seus demônios. E se mexeu pela primeira vez em anos. Comeu, e murmurou outra palavra em francês l´amour e não disse mais nada depois que repetiu o seule e se cansou da vista daquela janela e se mexeu. Foi até o jardim e buscou a lua, não tinha, no seu mundo a lua se esvaíra tão logo, naqueles dias em que esteve parado, sozinho. Disse uma frase em francês je veux une petite chatte e voltou-se à sua paralisia, seu coma aconchegante. Disse mais nada e morreu sozinho como quem morre afogado numa praia deserta, como quem explode num ônibus interespacial, como quem se envenena de amor, ou como quem sonha sozinho com algo que não se alcança.

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