quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

maysa de uma só vez


pretérito imp.

como se bastasse,
se debatesse e atirasse
num rio profundo de mágoa
sem canoa à borda, sem borda.
como se quisesse,
se estirasse sob o sol a pino
num dia fundo de azul sem fundo
o horizonte altivo clareia.
como se pudesse,
ser homem e criança ao mesmo tempo
relembrar dos velhos tempos
vivendo nos novos
desejar voltar, sem arredar o pé.
Bastasse, quisesse, pudesse...
nada aconteceu.

divagação à toa.

um pouco de ânsia e de vontade misturados, duas palavras que dizem ligeiramente a mesma coisa, mas são completamente diferentes em si, dizem a mesma coisa, mas são duas. Antes de mais nada, começar com ânsia e vontade somados deve ser uma baita necessidade, surge a terceira palavra resultante da soma da primeira e da segunda, que não diz a mesma coisa que ânsia e vontade, mas que se somando ânsia mais vontade talvez possa obter necessidade. É assim, (di)vagando em palavras que eu acabo por encontrar...nenhuma! Nenhuma que possa traduzir, dizer, desdizer e omitir aquilo que sinto verdadeira e intensamente agora e nessa semana. Pode ser uma verdade e uma vontade conectadas, pode ser uma mentira ou uma semi-mentira, ou uma quase-mentira, não totalmente, ligada à necessidade. O mentiroso só é santo quando tem razão de o fazer. Divagando continuo nesse mar de palavras portáteis, desmontadas, remontáveis, hábeis, que incluo nesse meu mapeamento emocional. Claro! O escuro torna-se mais claro, ou o claro, mais escuro, quando a gente se enrosca em ficar dizendo muita coisa. Só sei que quando a mentira pega, todos os mentirosos tornam-se culpados.

Olhos Negros


Olhos negros

Negros são os breus se não são meus ao meu olhar

Olhos negros

Por não serem meus serão do mar

Mares negros

Mares negros

Eu te mergulhei por serem bons de navegar

Barcos negros

Velas, ventos, naus a me levar

Olhos negros

Diz quem é você

Não me negue o sim

Guarda para mim um negro olhar

Tardes de verão

Noites do sem fim

Ardes para mim negro lunar

Olhos negros

Juro que eu sonhei quando encontrasse me entregar

Luzes negras são como faróis a me guiar

Na luz negra do mar

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

o pássaro - era para ser o vento

interação com pequenas formas disformes de sentir

interação com pequenas formas disformes de sentir

não tem cabimento
quando a gente se vê
coisas mexem por dentro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

era para ser o vento

'"se eu tivesse certeza,
não procuraria
da incerteza
nasceu a utopia"

sorriso silêncio

vou fazer pizza de shitake pra você
e cookies de café de sobremesa,
te quero na mesa do jantar
frente a meu rosto de vontade,
quero você frente ao espelho
e ao fundo meus pensamentos sobre nós.
Vou fazer poesias perdidas pra você
que se farão entender
quando você as ler
tão loucas e belas
flores de um caderno velho.
vou fazer malabarismos por você
e ouvir você dizer você
em resposta
um silêncio sorriso
ou um sorriso silêncio.
Vou nascer e morrer
pra você
vou me refazer e desconstruir
tudo que outrora era verdade
agora pra gente a nossa verdade
é veia, e vela, é fio, e fala, e folha.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

QUIERO ENCERRARME EN TUS BRAZOS

Quiero encerrarme en tus brazos
para tener libertad.

Gloria Fuertes

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

auto-retrato

filho de pais primos.
parti de memórias pra me perder em mim,
só assim me conheço,
só assim reconheço a face no espelho.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

cuerpos completos

Baja tu rostro hasta mi pecho
escucha el vacío todo lleno
hay recuerdos incompletos
pon los tuyos
y hagamos
de los tuyos, míos
de los míos, tuyos
para que asía podamos ahora decir:
nuestros cuerpos completos

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Vizinho do piso superior

O VIZINHO DO PISO SUPERIOR

"O róseo-púrpura do crepúsculo desce atrás dos prédios, oferece-me, num quarto de hora, uma paz acolhedora. Anos após anos, meus olhos, curiosos e

aventureiros, do outro lado, na estrada tortuosa que se perdeu no passado. Com as mãos nas grades, com a dúvida a pedir um pouco de meditação, permaneço absorto. Não demorará muito para escurecer. Se fosse jovem, seria fácil recuar. A lua, com seu corpo transparente, desenha minha sombra na parede. Sou uma sombra. “Como é fria a parede...” O mesmo frio interior. As grades, enferrujadas pelo tempo e pela falta de manutenção, não oferecem resistência. Com o tempo, a impotência nos coloca frente a frente com a morte, fica mais simples aceitá-la. Maldito medo do desconhecido! Embaixo, uma multidão corre riscos, não se deixa influenciar pelas estatísticas. O cemitério construído ao fundo é um aviso. Já não me incomoda. Em determinadas situações, a própria morte acaba sendo uma opção. Nenhum ruído, um pó ferruginoso forrou o chão ao tirar minhas mãos da grade. Nunca minha sombra esteve tão presente. Trazia bom agouro, não havia dúvida. Ou eu queria que trouxesse... Rareavam os que passavam lá embaixo. Estavam, com certeza, entre paredes, protegidos em suas fortalezas. Andamos em círculos, às vezes maiores, às vezes menores. Assusta-me a idéia de não sair do lugar.

Escurece rapidamente; mais rápido, o meu cansaço. Cansaço de não fazer nada, somente contemplar. Como o faço agora com as janelas que alternam claros-escuros. Como um véu transparente, uma nuvem cendrada recobre a lua. Noite para bruxas, noite vazia, noite dos amantes que apagam e acendem

luzes, abrem e fecham cortinas. Abraço o travesseiro, já não sou observado pela lua. Faz silêncio. Uma noite íngreme, cheia de obstáculos, fluía além das grades. Parei o olhar alguns segundos no crepúsculo que se apresentava do outro lado. Sentia o olhar do passado a me puxar, como o ímã a um metal, de volta ao meu espaço. Tentava não ceder, em vão. Pedras enormes, desgastadas e sulcadas,formavam a parede que suava o meu medo. Era passado. Pedra após pedra, a esperança de liberdade se esvaía. Uma fortaleza construída em função de nossos medos e incertezas, a registrar os limites entre quatro paredes. Haveria algum sentido? Os homens se esquecem do caminho que leva a vales e montanhas. Distraem-se em sonhos. Recusam a vida. Enclausuram-se em castelos medievais. Amanhece. A luz flagrou-me sentado, desenha as grades em meu rosto, traz minha sombra, enquanto eu observo um besouro que, aprisionado entre minhas pernas, caminha em círculos. Lá embaixo, a cidade acorda. Uma multidão observa um corpo estirado no chão. Sobre seu corpo, o letreiro anuncia a temperatura e as condições do ar. Morreu em dia fresco e com o ar respirável. Estranho... Pela primeira vez, não ouço os passos no piso superior... Do quarto para o banheiro, do banheiro para a cozinha, da cozinha para o quarto... Foi o vizinho do piso superior..." Carlos Rosa


O nosso trabalho semestral: adaptar esse conto.

um pouco de sentido



Tem sentido não ter sentido, e ser assim. Às vezes mais sentido terá quando o sentido se resolver e se fizer ser, sem sentido algum é mais interessante que o não ser, e se o sentido for não ser, então que seja, mas melhor é ser, e sem sentido algum, ficar.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

prosear na tarde seca

senta fica à vontade, a tarde tarda a baixar, a gente pode falar de tudo, tagarelar agora é pouco, você vai beber o quê? você vai me olhar bem nos olhos baixos, e vai agora tremer a mão que tá segurando uma taça barata de vinho barato, que a gente comprou na esquina. Os pés da cadeira estão a descascar, são velhas, não importa, a tarde vai. Segue uma conversa ou outra, a gente nem sequer olha os ponteiros, os segundos e os minutos se confundem, embaçam, eu não enxergo de perto, é miopia ou o quê? é desordem na vista, na cabeça e no coração, respondo alto. Olha bem alto, tem um prédio bem alto, a gente da cadeira tomba a cabeça, pra conseguir ver tudo, olha mais. e aí a tarde à toa se demora pra acabar, o pôr do sol é assim mais bonito, quando mais esperado, e no inesperado, todo o resto se esquece.

estos ojos

estos ojos
parecen aguas turbias
son tan tristes que encierran
el día y el sol
no me olvidaré jamás
de tu seriedad trémula
de tus palavras incisivas
de como tú bailas jazz
con tus manos y tus brazos
de cómo me dices no

terça-feira, 23 de setembro de 2008

translúcido

POUCAS PALAVRAS.
palavras POUCAS.
DIZER bem pouco.
você é o desenho de um mistério.
você é o mistério de um desenho.
você é verso, é veia, você é vento,
você é vontade e desconhecido
é um estranho familiar,
uma doce visita,
que se pede pra ficar
mais.
todo TRANSLÚCIDO
todo ameno,
você é o meio e o fato
você é o receio e o instante,
instantâneo e disparado,
você é estranho
tão bem eu seu,
também eu o sou.
Translúcido e sereno,
você é o momento de ficar.
Você é o cheio, o todo, o completo,
você é o repleto, discreto, distante
você é o perto e perfumado
você é alarde, e às tonterias que faço,
ri. ri mais. mais ri.

o garoto da avon

o garoto da avon
e seus rabiscos
e pinceladas pixalizadas
e reentrâncias num mundo aberto
literalmente um céu aberto,
um campo aberto
pra percorrer
com dedos e passos fortuitos
no imprevisto perfeito
o pretérito perfeito inexiste
e sabe o pensamento
perdura.

sábado, 13 de setembro de 2008

louco no sábado louco

jantou vícios
juntou vidros
cacos espalhados
espalhou uma raiva na penumbra
acendia a luz enquanto derramava o uísque
esgueirou-se diante do anteparo
o espelho refletiu sua face incômoda
ele não estava nada comedido.
caminhou em desalentou
desastrado sorriu pra janela
abriu-a ouvindo rock
quis sair, mas não encontrou a chave
todo bêbedo imaginou-se sóbrio
quando sóbrio, não largou o uísque.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

histeria

SENTIR os olhos pesados o corpo partido na histeria do seu estrago no meu eu alado...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

parque

à tarde no parque.

sábado, 30 de agosto de 2008

torrente calmaria

Torrente calmaria. Tira ao alvo. Impessoalidade porca. Passeio pelo escuro, de mãos dadas, o obscuro se torna claro. É claro, o hoje e o amanhã se confundem, em agora todo o agora, de outrora, rasteja, é certo que o certo de ser perto é utópico, mas o longe, tão distante, mesmo assim aflora, agora. É só olhar, depois ouvir, depois chamar. Tudo parou. Persistiu e perturbou.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Reflexo



Noite de Kino. São Paulo, mais precisamente Cinemateca, 24 de agosto, estávamos prontos pro tema, numa espécie de corrida com a câmera, os atletas deveriam gravar e editar em menos de 48 horas sobre o tema dado: política viva! Política? É tão amplo, tão aberto e perigoso, como dizer de algo que nem eu bem sei se sei. Como falar de uma abstração tão presente, mas às vezes tão invisível? Aceito o desafio, pusemo-nos logo pra pensar, o que queremos fazer? Eu, Yasmin e Camila, mal sabíamos o que nos esperava, o verdadeiro idílio perigoso ao qual nos meteríamos. Ok. O que temos em mãos? Uma São Paulo inteira num domingo, o que era ainda melhor, mais vazia, mas não menos instigante.

Decidimos por visitar lugares históricos e falar sobre o esvaziamento de valores e de história desses lugares, ou melhor, lugares marcados por uma data específica e que contivessem uma carga política extremamente forte. Pensamos no DOPS (órgão de repressão durante a ditadura), na Praça da Sé, palco das Diretas Já, o TUCA, o teatro aonde os atores de Roda Viva foram espancados na ditadura, Rua Maria Antônia, palco da Batalha da Maria Antônia, um enfrentamento entre estudantes em 1968, o Teatro Oficina, útero de peças emblemáticas para a história cultural do Brasil como O rei da Vela, eram tantos lugares, tão distantes uns dos outros, e nós contávamos com cash mínimo, metrô, e vontade, apenas. Logo de cara uma sorte imensa: uma mulher pediu pra sentar com a gente lá na Cinemateca, não queria sentar sozinha, estava sozinha, e começamos conversar, todos, e descobrimos que era performancer, atriz também, Adriane Gomes. É ela, pensamos, e logo aceitou o convite, extremamente atenciosa e disposta a dividir com a gente essa batalha da câmera, do tempo, do tema, da criatividade.

Sob algumas orientações do Professor Alessandro, decidimos por cercar o tema de forma menos abstrata e mais específica, falaríamos de política no dia-a-dia em lugares com peso histórico, ponto. E a Adriane seria a passante, a transeunte, e por fim, a performancer. O trabalho não poderia demorar para se dar início, e o fizemos tão crentes de que seria um longo dia, mas não sequer imaginávamos o que nos aguardava.

Gravamos algumas cenas na Maria Antônia, rua emblemática aonde se encontram as universidades Mackenzie e USP, antigamente escola de Filosofia, hoje, centro de recreação, lá, enfrentaram-se os estudantes, integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) versus os estudantes da Universidade de São Paulo, alinhados mais à esquerda. Pancadaria e morte: a vítima, um estudante secundarista de 20 anos, José Carlos Guimarães. Depois, a Sé, dentre pregações, homens bêbados, turistas, Adriane subiria ao marco zero e pregaria política, muda, já que na edição o som era tão somente o ensurdecedor sino da catedral. Essa cena quase nos resultou em prisão: subir no marco zero é proibido! Obviamente não era uma depredação pública, era uma intervenção pública, e só. O policial que quase nos cantou voz de prisão estava estátua atrás da gente, a vigia e a ordem nos perseguia. Em seguida, o DOPS, uma emoção macabra, as celas expostas com fotos de prisioneiros, pareciam celas medievais, portas grossas, ferros pontiagudos; não foi permitido gravar nada, mas sentir tudo aquilo foi-nos cena forte e sangrenta, uma seqüência de horror, que hoje é mascarada com visitas guiadas e iluminação própria, é o show de horror, o entretenimento da dor.

Nessas andanças pelo centro, vimos de tudo de política viva, ou ausência dela: mendigos, crianças, todos esses elementos perturbadores, característicos de uma cidade grande, contraditória e suja. Culminamos na Paulista, o centro financeiro de São Paulo, reduto de todo tipo de gente, todo tipo de política. Lá seria o clímax do vídeo com a performance da Adriane portando um vestido espelhado, com luzes refletindo, em meio a carros e pedestres. Antes disso, deparamo-nos com Verdi, um senhor culto, um mendigo sóbrio, ácido e pessimista. Praguejava coisas como “tem de jogar uma bomba no congresso nacional”, coisas do tipo, mostrou-nos lúcido e inteligente, extremamente crítico, politizado, uma contradição, a personificação da política viva, errante...um são em pele de louco.

Mais que sair para gravar algo, o importante foi sentir o tema antes de qualquer coisa, durante esse processo. Poder com sinceridade discursar visualmente sobre o que é, ou pelo menos o que vimos de política viva, dentre um território tão grande, em cima de uma linha tênue, oscilante, que é política. Confrontarmo-nos após tantas revelações nesse dia, dar atenção àqueles que são invisíveis, ouvir os loucos, não tão loucos assim, sentir o peso da vigia, da ordem e segurança pública, tudo isso mexeu com a gente, nos deixou mais preparados, e emocionados também. Na exibição, o que vimos, foram curtas e curtas, uns subjetivos e alienados, outros engajados inconsistentes, outros alegres, pirotécnicos, fracos, mas uns verdadeiros e emocionantes. O bom foi ver a diversidade de olhar, as multifacetadas formas de se produzir com pouco, criativa e intuitivamente, talvez um reflexo da própria Universidade, reduto de ensino e de fraquezas, nós, como estudantes audiovisuais temos grande dilema e desafio: produzir com pouco, criativa e diversamente, apontar nossas câmeras para o que vemos, e refletir, o que somos. A Noite de Kino foi isso.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

faróis e incêndios

faróis e incêndios
alumiam-nos
seu rosto na noite alaranjado
meu rosto é a noite toda escura
tua mão no escuro da noite
disforme
minha mão na noite do escuro
distoa.

pelo apelo

há o querer e o mais distante
de tua pele pelo apelo
perfurante, partilha do medo
consoante
ao desespero, vem a espera
e todo o esmero de se fazer entender
quando que se quer não se entende
ou quando o que se entende não se quer
por mais que saiba
por mais que permita
todo o menos ativa
todo o mais
e você, distante ou mais distante
se esgueira noutro caminho,
que eu ainda não alcanço;

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

open the door

a tábua de esmeralda

"A Tábua de Esmeralda (ou Tábua Esmeraldina) foi o texto que deu origem à Alquimia islâmica e ocidental, surgiu primeiramente nos textos seguintes: Kitab Sirr al-Khaliqa wa Sanat al-Tabia (c. 650 d.C.), Kitab Sirr al-Asar (c. 800 d.C.), Kitab Ustuqus al-Uss al-Thani (século XII), e Secretum Secretorum (c. 1140)." do wikipedia.

O melhor cd do Jorge.

acalendariado

20 de agosto o caralho, eu não quero o tempo, não preciso de tempo, eu quero sentir que esse tempo passa, sobre minha pele eu quero que ele passe, quero que transpasse perpasse e não me poupe de marcas, eu quero a marca de um tempo atemporal, não dia tal, nem semana essa, quero que me interessa, que é o logo, que é o amanhã, sem números nem mês, talvez eu queira um pouco de realidade, sentir que meus pés caminham, mas não a mesma estrada, nem no mesmo ninho o reconforto, eu quero o absorto e o grave, 20 de agosto é o caralho, 21 de agosto é o caralho, agosto é desgosto, pra mim, é dia que tem céu bonito, dia que não tem, dia em que eu quero sair de casa, dia em que eu não quero, dia em que escrevo, dia em que falo, é tal ou tal; Agosto talvez se torne longe quando eu olhar, por isso prefiro a massa de tempo, em que não vejo o ontem, por favor, não me mandem calendários.

Polaroids

quero pintar uma tela
quero pintar na tela e tirar uma foto
eu quero pintar uma tela tirar uma foto e crescer
eu quero alcançar os 3 m
eu quero ser bailarino e sair à rua dançando
eu quero alcançar os postes e amarrar fitas coloridas neles
eu quero o eles
eu quero o elas
eu quero pintar uma tela abstrata
eu quero seguir abstrato, e coerente, às vezes
eu quero o bocejo o ensejo o seio tão mais
eu quero mais e a tela e os 3 m e o balé
eu quero uma foto de você
e espelhos dispostos no quarto
eu quero o ato
eu quero
eu erro
eu encerro

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Carmen de Godard

CARMEN É A PUTA... E A SALVAÇÃO. Carmen de Godard é um filme apoteótico, apocalíptico, ministrado como uma ópera, um poema irregular ou como um quadro cuja observação exige mais que o olhar, exige o coração. Carmen só não é mais puta porque Godard intervém, Godard é o tio, é a culpa, é o cineasta tangendo a loucura, se vestindo de louco, comendo e adormecendo como louco, Carmen pistoleira é uma estátua grega, uma mulher francesa universal. Carmen, diria, que é a Maria Bonita do equador a Norte, mais potente que existe, ela é forte e seu corpo eriça e esguicha o mistério de ser Carmen, o filme, a pergonagem, o cineasta, o espectador. Godard, framicida por natureza nos põe ante à imagem em rebuliço, e enquadramentos que nos faz questionadores: somos até ponto observadores e ativos?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

São Jorge Power (NÃO TERMINEI)

Se enamora com o vento, se demora com o tempo, tempestivo e alegre zoa, sua fome felicita a miséria de outrem e seu erro reorganiza sua memória. No chão de flores amarelas abandonadas convive com a transitoriedade de uma vida vã, que voa cada minuto além do que pode alcançar, não tem controle de nada, mas vive. Diz-se que é um homem de testa curta, mão de ferro, um verdadeiro guerreiro, mas a verdade é que é tímido, e tatua no corpo uma coragem também tímida, que está aquém do que se precisa para se manter em pé, por favor não o olhem na face, tem olhos que trincam os nossos, tem um peito pungente que faz chacina dos nossos, tem uma faca escondida, e palavras perfurantes sob um canto de águia que sabe imitar copiosamente bem; hoje come voraz a comida no boteco, olha com olhos de lobos mulheres na calçada, bebe como louco uma cachaça e meia, mente pra gente, engana a gente, corrompe os bons, e com os bens faz algazarra, é mesmo um estuprador público. A polícia diz que dá recompensa pra quem adivinhar pra onde ele tá indo, pra que terra ele vai fugir, por qual canyon ele vai passar, com que carro vai, com quem, quando, que horas, querem armar emboscada sangrenta, cortar a cabeça e erguer no pódio do massacre, ou colocar na escadaria na Igreja de Nossa Senhora das Dores, donde matou quinze em quermesse e foi proclamado santo dos vadios, chefe dos pistoleiros, o demônio das redondezas. Eu bem sei que esse cabra vai fugir pra São João do Egito, mas falar seria muita covardia, eu sei de tudo, mas eu não arrisco minha cabeça por dinheiro algum, eu sei que se eu falasse ele mandaria cabra vestido de demônio pra tudo quanto é lugar que eu fosse, então eu não sei de nada, Dona Zélia tampouco, ela disse que Titinha vai falar, porque não quer que filha dela, moça dereita, criada pelo saudoso Capitão Oristide, vá com bando catinguento que não presta. Eu vou falá e quero tê o prazê di cortá a cabeça desse cabra fidaputa. Isso vai dar show apocalíptico, um estardalhar, uma batalha homérica em terras nordestinas, um monte de sangue vai banhar o véio Chico, e os peixes vão sair tingidos de vermelho bem vermelho, não quero nem ver... Noutro dia bem cedo, enquanto arrumava seu opala velho, punha pistola e tudo no porta-mala, carregava são jorge no pára-choque, um santinho daqueles que cola, o sol raiava nordestino e forte, marelento, vinha pela frente um dia seco, o suador no cabra começou cedo, mas ele tava certo de que quem soubesse seu destino, não ia denunciá não, porque eu mato! Titinha ligou pra polícia: São João do Egito, vai levá minha fia junto! Mata o hómi. Carros e mais carros de polícias seguiram rente, estrada quase vermelha de fogo, de terra batida, de terra sem beber há mais de um ano, o cabra ia feliz com a filha de Titinha e Relâmpago, braço, mão, dedo direito, tudo de confiança era o Relâmpago, eles seguiam pra São João do Egito tão logo, que ia ficar tarde. A filha de Titinha tangia pelos lados, feliz, o timbre de sua voz era estampido naquela tarde: óia a polícia! Tratou de acelerar o mais que podia, o carro obedecia raivosamente com rumores de que uma emboscada estava pela frente, cada arrancar dos pneus marcava duro o chão, sobrepunha camadas de terra com a poeira que se assentava, os policiais perseguidores corriam, corriam, corriam, e o homem brabo, ferro do agreste com peixeira e escopeta se dispunha poderoso e invencível, Relâmpago gritava tão alto, dava instruções, olhava pra trás, jamais se renderia. Gritava a correria, à perseguição o sol iluminava duro, e certeiro como flecha, a gente podia ver bem na cara desses três baderneiros faces fatalistas, talvez facadas os pusesse em luta, talvez um tiro certeiro matasse um e desesperasse os outros, talvez o pneu furasse e todos os três fossem juntos correr e correr pela vegetação ainda que rasteira e falha, ainda que o esconderijo não fosse dos melhores, os três poderiam sumir bem rápidos e pés com asas por dentre pedras e pedregulhos afiados, fatais. Talvez a polícia se perdesse no pó, na poeira quase atômica que o cabra macho levantava raivoso, quem há de me perseguí não há de tá em paz, vai sê condenado pelo próprio feito, praguejava e praguejava pensando em São Jorge como escudo e inspiração, todo o mais ao seu redor, durante a reza, era silêncio, tinha uma cabeça boa pra se concentrar e pedir ao santinho que sempre lhe ajudou e hoje não devia faltar. Minha mãe que ensinou a reza, trabalhadeira e crente na Virge e no Santo, morreu triste quando os gado morreu, tinha de criá a gente, nosso pai que era dado por perdido veio nos buscá, e nos levou pra luta, pra arena, que hoje é meu circo e meu lençol. Palavras bonitas assim foram ensinadas por um repentista, um sujeito misterioso que o ensinou a ler, dava-lhe coisas belas e cantigas antigas, que até hoje sabe de cor. Com esmero e uma delicadeza espantosa, ele às vezes cantava algumas no ouvido dela, que exibia dentes afiados, toda risonha que só ela, e ele gostava de ver os furinhos que surgiam quando ela ria com fitas amarelas no cabelo, um cabelo encrespado, empoeirado, cheirinho de terra e nózinhos, caracóizinhos, emolduravam um rosto bonito demais, porcelanoso demais pra quem vive nessas bandas de cá, tinha por ela um sentimento bom, que o fazia desconhecer a si próprio às vezes, mesmo quando se pegava olhando rabos de saia, era ela que logo vinha à cabeça, é que pra se vê, é difícil, Titinha segurava a menina à rédeas e rezas, chegou até a amarrar a menina na cama que era pra não sair no dia em que ele ia ao palanque do Zé das Trincheiras, candidato a deputado estadual, ex-companheiro de luta, homem tinhoso e fraudulento, um verdadeiro cacto cru. Ela gosta dele. Ela se contorce por ele, e aquele dia teve os pulsos em vergão porque se remexia toda a tadinha que queria vê-lo, ele que havia comprado um carro velho e lhe trouxera um perfume, comprado em botequim chique. Chorosa que nem ela, ficou com olhos todos vermelhos, Titinha aumentava som que era pra não ouvir os berros, e nem os vizinhos. Dona Zélia chegou a perguntar, é nada Zélia, ela acordou triste, minha fia. E passou meses tristes, porque ele achou que ela não queria mais ele, não foi ao encontro, não deu as caras, toda atada a pobrezinha. Mas quando se encontraram, em compensação, foi pirotecnia no agreste, fervilhavam os corpos de ambos de vontades e de pecado, as bocas se atracaram secas e firmes como um prego martelado em madeira, firmes! Trocaram juras, meu pitéu, meu fogo vermelho, meu céu de dia chuvoso, coisa assim até mais. Quanta boniteza! Titinha podia nem imaginar, ia enfurecer que nem capeta, ia pegá-la pelos cabelos e surrar a bonequinha. O homem então propôs a fuga, que nem de cinema? É, amor. Eu vou, pois ela foi. Relâmpago foi buscá-la na porta de casa, Titinha até apareceu com uma tora de madeira às mãos, ia dar cacetadas, mas os dois zarparam tão logo, que vizinho nenhum viu. O carro segue longe, a polícia mais atrás come poeira, pretende matar todos a tiro e cortar a cabeça do testa de ferro, aquele que é desordeiro e infernal, o pau nele! Todos se lembram da vez em que ele pra vingar morte de primo, companheiro desde infância, mercador viajante, ele fez Renato das três porteiras lamber chão, comer espinho e como gran finale cortou sua cabeça na frente da família, mulher, bebê, criança, um choramingar musical que lhe arrancava risinhos demoníacos, ele não é santo coisa nenhuma, mas quando quer, é honrado e bondoso, bem quando quer, depende do humor e do amor, do coração que às vezes é tão empedrado... Esse hómi faz chão tremê, faz céu caí, faz chuva dá meia volta, é ditado, coisa assim, quando ele chega: agora de carro ele corre, com a filha da Titinha ao lado e Relâmpago ele bem que poderia morrer bem, mas primeiro quer matar. Não deixo nem herança nem dívida, mas deixo estória. Queria que na lápide estivesse marcado quantos cabra enfrentou, com coragem de homem santo, com cara erguida de cavalheiro, com postura de cavaleiro, grã-fino das mortes. Mas mato, mas amo. Quando olha pra moçoila, acho que fica repartido entre ódio (que lhe é próprio) e amor (que lhe é de outrem e de outrora), ele tem um bem na alma, quando beija aquela boquinha, ele se desarma todinho, e ela também, moça ruim, alguns vão dizer, deixou mãe e irmãos pra fugir com homem desses, não cuidou da avó nem da vizinha no leito da morte, só quis gozar. É nada, é moça dereita, quietinha que foi picada pelo bicho ruim que é o testa de ferro, homem que com parte com capeta aterroriza as redondezas. Cada um diz uma coisa, ninguém entende. Mas é assim, no ante-morte dá dó ver a troca de olhares deles, não deixa eles pegá a gente, não deixo não; dito e feito, o carro parecia que ia voar cada vez mais, São João do Egito não estaria longe, lá eles tinham comparsas, e em guerra armada bem provável que vencessem, se tivesse emboscada aí era outra coisa, Relâmpago, homem sábio, dizia que não, que emboscada de milico é burra, sabem manejar máquina, mas não natureza, e São João do Egito é pura caatinga, terra do nada, que pra eles é tudo, lá tá enterrada a mãe do cabra, lá tem estátua de São Jorge que diz que é milagrosa, lá tem um céu que faz nossa cabeça entontecer, queria levar a moça pra ver, pra pagar promessa junto, pra casar. Se fosse pega, pela polícia, a moça, de certo seria estuprada, violentamente violentada, o cabra só de pensar nisso pisou mais fundo, eu vou pro inferno com essa carro mas não páro. E coisa nenhuma o faria parar. Relâmpago relinchou de euforia! A filha de Titinha olhava pra trás e pra frente, pra frente e pra trás, alternava medo e frio na barriga, olhava pro cabra, fitava seus cabelos desgrenhados, seus olhos retos, rentes, roucos. Sua camisa ainda meio suja de tecido barato balançava a gola, ele mordia o lábio, mostrava dente, carcava o pé no acelerador. Que perseguição! São João do Egito ia aparecendo lá no fim da estrada, perto de uma caixa d´água grande seca.

sábado, 16 de agosto de 2008

estampido

A TEMPESTADE DE DRAGÕES


Bispo Manto do Rosário

O café

Mesa pra dois com um, com dois, depois. Que tarde. Sobre as tardes às vezes digo palavras de tédios, que são traduções de uma tarde livre, que são sensações de uma tarde ensolarada, e a gente na rua. Aquela tarde traduzo com palavras bonitas, e um pouco de um silêncio. Vaguear sozinho é bom, encontrar outro sozinho, é tão bom. E a poesia que se forma é melhor ainda. São poesias ágeis, de olhares, um feitio estranho, olhar um estranho e se deparar com um estranho que virá a ser um conhecido, mais, virá a ser um conhecido-desejo, ou um desejo conhecido, mas sempre novo. Caminhar pela tarde tediosa e vaguear por desejos é tão estranho, é mais estranho estar ao lado de um estranho que invade docemente sua mesa, e pergunta quem é você de forma tão adorável e singela, que o estranho se torna em tamanho um gigante conhecido, que reparte com você um fim de tarde, uma sessão de cinema, um céu, um sol, um seu, o sou, reparte, compartilha, descobre, antevê o que você não esconde. Tirou a caneta da minha mão que era pra eu parar de tremer de vergonha, me avisa quando eu estiver vermelho que eu páro. E a gente cara a cara, face a face, temendo a tarde ir embora depressa, a gente sem pressa aproveitava o tédio para fazer do estranho o tamanho desejo. E teu antever me desnudou de tal forma...Uma mesa tão grande, eu sozinho. Mesa tão grande, você sozinho. Mesa pra dois com um, com dois, depois, me avisa se eu estiver vermelho. Várias vezes você estava. Não importa a tarde, não importa o tempo, o relógio. A sessão cessou. Andar pelo fim de tarde, anoitecendo, é descobrir mais sobre você, sobre mim.

domingo, 10 de agosto de 2008

cava no canyon sua memória

Rupestre, segue errante o caminho das flores já murchas
mas ei que ressurgido um céu se invade e tece
toda a face da espera e do seio
o sol sobrevê o outro lado da noite
e não teme,
cava no canyon memória dourada
de beijos latentes lascivos,
anseios carentes, perdidos e desconexos
hoje a noite não treme de frio.
Há nuvens milhares delas a nos cobrir
felizes de tanta noite ao nosso redor
que se o amanhecer vier, a luz afaga
mesmo as luzes dos postes
mesmo os pés cansados
mesmo o carinho de mãos que outrora se desconheciam,
você corre cavando a sua memória no meu corpo
e eu pouco a pouco me revelo, me entrego.
São fomes, são seios, são néctares em sincronia com flores perfeitas
o jardim e a relva revelam-no na escuridão
e os violinos cantam, gritam, exageram
como é bom te ter nos braços
embraçando-nos
barcos a velas no seu mar.

domingo, 8 de junho de 2008

toda minha sombra

toda minha sombra sobra
toda minha sombra assopra
toda minha sombra no sopro
o seio solto, o seio moreno
o seio pendido, o seio partido, pisado
o seio selado, suado, vendido
o seio-sopro
o solto, o selo, o sonho, o salto.
toda minha sombra senta
toda minha sombra sua
toda minha sombra sobre
as paredes de memória mentiras
as paredes de outrora, caídas
as verdades em diários
as verdades nos armários,
os objetos que restaram
os seios.
o perfurar do olhar na fotografia
com o encontro da minha sombra
no passado, pesado.
Sobra.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

segunda-feira, 2 de junho de 2008

AMOR E GUERRA


Arte da sensação. Do estranhamento, à fragmentação nossa mais sincera saudação. Bem-vinda imagem, bem-vinda poesia, há que dizer do estranhamento de estar com você, há que dizer da supressão do frame, a pele agora é magnética, e a gente escreve sobre ela nosso testamento-eternidade, a de-forma de verdade, representação de sonho, de uma época, de um maio 68 que hoje é junho de 2008, somos contemporâneos do que ficou. Ficamos e restamos na imagem, na reconstrução da imagem, que colide com a poesia nova.
Ator de nossa fome, de nossa vontade, criação coletiva, acabamento coletivo, o êxtase é nosso, todo nosso vício, nosso medo, toda nossa estranheza. Implica em amar. Implica em amor.

sábado, 31 de maio de 2008

GUERRA E AMOR

La poésie est dans la rue. Nous sommes la poésie.


Em p&b estamos na poesia do seu interno. Nesse seu terno amassado guardam lembranças, rotas marcadas pela distância, pela saudade. E esse olhar de menino-deus, a buscar a outra, o desejo, a pétala do seu universo apartado, é tão incoerente com essa força dos seus braços, nos seus braços carrega o mundo da sua paixão. Nossa paixão é o frame digitalizado e você nas nossas telas. Aguardamos sua palavra que não vem, querendo falar tudo se resume em gesto. Tua fome de amar é coerente com o vídeo, e teu seio se abre a vontades. Teu seio é cinema. Em pêlo, o apelo de seu texto tateia Agnes. Você sabe que você está preso em você. Nós também.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

interurbano

trim
estou te ligando,
atende.
estou na linha
há horas
mil horas
atende.
toda vez que te ligo
você e eu emudecemos
entende
atende
toda vez que eu ligo
acende
ascende
me entende?
então atende

sábado, 24 de maio de 2008

A IDADE DA TERRA

DESORDEIRO CAMINHA BRAHMS
diante de Brasília bravatas e querelas
diante da câmera de Glauber, seqüelas
de uma história brasileira.
Caminham Brahms e Cristos
crucificados insepultos e transeuntes
falantes, farsantes e famintos
caminham Cristos em solo nacional
caminha Glauber diante do sol
DESORDEIRO E ANTI-FÍLMICO
magnificado pelas palavras proféticas
realiza incursões estéticas e enfáticas
em BRAHMS o estrangeiro, o outro-anti-nacional
o ouro da nossa Terra é nossa
e a vontade de guerra de Cristos
perpassa frames, francamente falantes.
FILME TESTAMENTO FILME ANUNCIAÇÃO
FILME FUMAÇA FILME FOGO FILME FOME
FILME FALA FILME ATO FILME HISTÓRIA
fagulha fagocitada pela lente pouco digestiva
de um Glauber doente e inconsciente o mais sábio
GLAUBER FOGO GLAUBER BERRO ROCHA PENHASCO
de sabiás em sabiás, nossa terra se desfez
ESTAMOS SECOS ESTAMOS FAMINTOS ESTAMOS COLONIALIZADOS.
DESORDEIRO SEGUE BRAHMS
O DEMÔNIO SPEAKS ENGLISH
diante da gente.

domingo, 18 de maio de 2008

Senhor José Mojica



Somos estudantes de cinema e gostaríamos de entrevistar o senhor, tá? Ele não respondeu, nem disse não, nem disse tá. Mas liguei a câmera e comecei, antes ele quis acender um cigarro, não pôde. E comecei a perguntar sobre cinema, sobre o seu cinema, sobre o seu cinema na ditadura, foram três ou quatro rápidas perguntas para aquele senhor que parecia com sono, cansado, velhinho, eu o imaginava forte, grandioso, e resplandecente, mas não. Eu fiz as perguntas, alguns planos, a Ju também, a Cheiko e o Eduardo estavam lá.
Aquele Senhor José Mojica tinha unhas estranhíssimas, amareladas, não importa. Por fim ele assinou sobre a foto de "À meia-noite levarei sua alma" do livro Cinema Marginal da biblioteca, nem meu era. Queria ter falado mais, incitado mais, dito sobre Glauber Rocha, Cinema Novo, Cinema Margina, Vanguarda, Gênero de Terror, Cinema Contemporâneo Brasileiro, Meios de Produção Cinematográfico... blá blá blá... Ce ça. Vou editar as imagens.


sábado, 17 de maio de 2008

En el cielo

Sobretodo, estoy delante de mi rostro
y mi rastro preso en sus ideas
en su imaginación,
mi amor y mi corazón
son tuyo
y tudo en mi cuerpo
deshace ahora
cuando pienso en usted
cuando veo usted
cuando soy usted.

A SANTA PELADA


Quinta foi engraçado, o ensaio começou com notícias não tão boas, pessoas saíram, as cenas teriam de ser reformuladas, enfim, tinha tudo pra ser um ensaio sem força, mas não.

David, Anna e eu estávamos presentes, completamente enraizados naquele chão, esperando só o momento de podermos nos despir de pensamentos externos e começarmos a atuação, a entrega, a resistência. O exercício inicial foi uma espécie de mantra atuado, uma Ave-Maria diferente, sentida, os corpos mexendo de acordo com cada palavra, cada frase. Sentir e atuar aquilo eram difíceis, em alguns momentos nos perdíamos na reza, na repetição, no espaço. Depois, fui arremessado aos leões. Num cubículo, um cubo de madeira, tinha de conter meus movimentos e fazer uma cena, pensar numa cena, em palavras, em gestos, não podia parar. O que veio espantou-me, as palavras, a cena: a santa pelada surgiu como quem surge vestida, discreta, depois me tomou o corpo, o pensamento, repeti várias vezes até conseguir um grau de entrega e de concentração que eu jamais imaginava. Sentia-me envergonhado, tal qual o personagem, castrado por me mostrar ali, diante deles, toda minha fraqueza em dizer: “eu era uma santa, uma santa pelada, que mostrava o peito, que se mostrava toda pra todo mundo”. E eu dizia, eu ria, eu me entregava, um cansaço começou a me tomar, e quando parecia rendido e morto, David introduziu a Anna na cena, fizemos tudo com os corpos, com as falas, com a santa.

Rolávamos no chão e esculpíamos imagens belas, mãos entrelaçadas, abraços findos, olhos concentrados. David nos guiava diante de nossas permissões, diante de nossos desmembramentos, diante de nossas loucuras. Confiantes, produzíamos imagens pictóricas, falas esparsas. Revezávamos na santa, mas éramos um só corpo, um só pensamento.

No final, acabou que foi uma criação interessante. Apesar dos pesares, estamos empolgados e queremos continuar. O palco permanece. Permanecemos inertes no estado de entrega, a soltura de nós mesmos nos traz ao compromisso e ao deleite que só nós nos permitimos. Estamos diante de nós mesmos, fonte de arte e de criação.

8/05 - grupo de teatro "Toró di Parpite"

CÉUS SÂNDALOS ESCÂNDALOS VERMELHOS

hoje acordei nu e estou diante de um espelho penetrável, mergulho fundo, e caio de cabeça num céu que se abre pra mim, nu, sem estrela alguma, algumas nuvens, algum vento ventania fortes que me velam, nu. E levar-me para algum lado dessa noite, já está ficando dia e não cesso de olhar, eu olho, eu me entreolho, que está no rádio? Uma música da Gal fatal. Estou nu diante de mim e você com aquele jeito leão fez-me o quê? Deixou-me em escândalos vermelhos, rubor supor que você não me conhecia, agora já sabemos de um e de outro todas as verdades da pele, e sob a umidade da noite nos encontramos. É no meio do labirinto sórdido que te vejo estátua nua sobre um arbusto aparado carinhosamente pelo jardineiro que já se deitou, na Rua dos pessegueiros, número 401. Você é um delírio. Você é uma forma disforme de me dizer que eu vivo e que não paro minha respiração nem quando durmo. Você é meu vácuo preenchido de você de verdade de perfume doce.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Venus sola

Yo la miraba
como yo, ella estaba
tan modesta una estatua
sus ojos mares buscándome
sus manos caritativas serpientes
estaba como estaba
Venus atenta, Venus triufante
delante de mi mirada
ella y yo estábamos
en la noche vacía
con los dolores del cielo negro
aunque nosotros llenos
de ternura, mi cariño
de esperanza, mi aurora
no hay hora que no la veo
así: Venus sola, mi mirada.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

porque não amou...

Anda diante de fato falante ferido conferindo toda em sua estante
amores e amantes que vêm e vão no vão do seu peito o mesmo receio
de ser sozinho quando anda calmo e perdido nas avenidas sem rumo
e por uma olhadela no céu vê que seu é nada e que tudo que tem é ausência
ao seu lado a ausência atrás a ausência na frente a falta que tem
quisera ficar permanecer e estar sempre com alguém que pudera dizer:
eu amo você nunca vou te deixar não há porque temer esse amor é você
que me traz e me faz ficar humano e de coração eu o amo com ternura,
essa doçura de afeto foi pro ralo, nem é feto daquilo que poderia ser paixão
e em seu coração que ficou foi descrença, que matou foi cansaço,
que o tornou um velhaco rabugento e reclamão,
todo dia acorda cedo, chora e chora, sem receio,
mergulha na mais profunda solidão de velhice,
traz pra gente a bizarrice de ser o não ser
é todo casulo, vai morrer nulo porque não amou.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

VEIAS E ESTADOS


VEIAS E ESTADOS DIFEREM, OS OLHOS FEREM, CORTAM A CRUEZA DA DUREZA DA CERTEZA DA SUA PELE O PRURIDO DURO E OCO E VERDE DE VEIAS SANGUINAIS VEIAS CERTAS E CERTEIRAS QUE VÃO E VÃO E VÃO. ESTOU DIANTE DA SUA MINÚCIA CORTANTE, CORTA MEU CORAÇÃO SEUS LÁBIOS QUENTES ESTAMOS FELIZES E TRISTES E FELIZES EM DOMINGOS. VOCÊ E SUA VEIA, VEIA QUENTE, VICIOSO, VÁCUO, VEM CÁ, DIZ UMA COISA PRA MIM, VIDEOTAPE, DIZ UM VERSO VENTOSO, VENTANIA, ME DIZ MAIS UM VERSO EM QUE EU POSSA VER VOCÊ NOS OLHOS DA PALAVRA, CADA PALAVRA UMA SEQÜÊNCIA DO SEU DNA, SEU GENE. JANTA COMIGO. JUNTA COMIGO. LÁ SE VAI MAIS UM DIA ASSIM E A SAUDADE QUE NÃO TEM (...)

estamos IN RAINBOWS


Estamos IN RAINBOWS, toda contemporaneidade precisar estar IN RAINBOWS, porque é o contato direto com o inexplicável, o que essas faixas podem fazer com a gente, um TRANSE, IN RAINBOWS traz pra gente toda forma de contato consigo, é incrível como me sinto IN RAINBOWS e a gente não cansa, a gente se casa com a melodia, todas as letras, e batidas, o coração. É arte pura moderna, dá pra fazer um filme em cima de cada faixa, ontem andando sozinho, voltando do ponto de ônibus, ouvindo a faixa 2 no discman, e de repente tudo fez sentido, vi um videoclip na minha frente, meus olhos cortavam as imagens, e tudo fazia sentido, sensação incrível, um cachorro no ritmo, se esfregando no chão duro, depois luz baixa, sol indo embora, um casal de namorados, crianças pulavam no ritmo da música, da melodia, pode? Eu não sei explicar. Estou em contato íntimo e direto comigo mesmo depois de ouvir esse cd. Fazia tempo que algo não me sensibilizava tanto...

domingo, 4 de maio de 2008

Rosas brancas e calafrios

"No teu jardim dos sonhos onde cantam os lírios no asfalto
e choram as rosas de Cartola
as flores em branco
enfeitam de vida minha estante de divagações
meu instante de encantamento constante.

Flor que não é árvore
no teu roseiral já resolvido
pétalas em branco
sacralizadas na pureza das cores e dos cantos
rosa flor toda nua despedida de seus pudores
deixou a solidão do poeta
pra viver no cerno da compaixão e do carinho
doce ninho.

Flor que não é pássaro
decompõe-se à luz do sol, a interface de todos os amores
num degradê à mercê de desejos ocultos
revelados em cada passo em falso
compassos humanos em silêncio
e a vontade de voar.

Melodia, tom, sobretom, e sobretudo
quando desfaz-se o cantar do grilo
impoe-se no sereno do teu íntimo,
toda a graciosidade da rosa que se assume flor
sutilezas brancas primaveris
que faz ecoar desejos e calar de vez o frio"

Luís Lima.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

"O cão a menina minha avó e eu nas poesias perdidas da infância..."

todo o gozo

vejamos o movimento dos lábios, certeiros como flechas, disparam clamores e forjam sentidos. Toda educação de seu olhar se restringiu a mim e à minha intenção de querê-lo bem. Estar diante de um espelho é tão difícil, e me julgar para você, e me compor para você, e me desconstruir, se necessário, para vo-cê. Todo o movimento que seu casaco de sarja faz quando você está andando apressadamente me remete ao vento, e seu cabelo acompanha, quase grande, quase solto, quase meu, toda a forma e doçura de se pertencer a alguém, ao amor de outrem. Diga-me sinceramente as estranhezas de um delírio revelado abertamente para a sua realidade, sua consciência, somos contemporâneos e não vejo mal algum em nos atracarmos com pressa e voracidade, imagine se o tempo fosse barreira, e estivéssemos em vidas diferentes e distantes, imagine. Mas tudo bem, eu falo bem baixo tudo bem olhando para sua mão terna e calma, ela é tão vagarosa, se move bem pouco, parece em coma, parece como uma mão presa, desejando sair, libertar-se. Liberta-se e acaricie meu cabelo quase crespo, tenho vontade de te pedir mais, que toque quase arrancando meus lábios, não os beije agora, só sinta com as pontas dos dedos. Depois se quiser, fecha-me os olhos para que eu veja só com o coração, e depois, se ainda preferir, encontre minhas duas mãos paradas, descansadas, e trave-as como chave-fechadura. Todo o meu movimento ficará inerte, e eu continuarei parado, porque assim é melhor, eu me entregaria morto, parado, o respirar lento, os olhos sem saber o que ver, e todo o mais é consequência de uma sofreguidão quieta, de uma explosão muda, de uma retenção, de uma redenção, de um soluço que não irá passar, se você, algum dia, me disser fique, me disser estamos, me disser somos. E toda minha poesia se converterá em gozo, e toda minha balbúrdia, esbórnia mental e confusão tornar-se-ão seios a serem tocados e embebidos de versos nada castos, versos salientes, versos cheios de amor que não se demora.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

De acordo com o desacordo

De acordo com o desacordo de olhares, eu fecho a passagem de versos retirados de mim e dedicadas à você.

tudo vai bem

toda idiossincrasia nas resposta e suas subalternativas de desejos:
tudo vai bem toda forma de esquivar-se e adentrar a um silêncio perturbador:
tudo vai bem todo desequilíbrio financiado por sua histeria quieta:
tudo vai bem toda forma de me ater a seu alter-ego, e me machucar:
tudo vai bem todas estradas espinhosas para entradas no seu universo de efígie:
tudo vai bem percorrer manco e cego, desejoso de verdades estranhas e instigantes:
tudo estará bem.

eu precisei da sua verdade

Objeto no escuro
abjeto
À espera de resposta
que não vem, que não vem
e o que tem em corpos adjuntos
todo o desejo, em segundo esvai-se
a nova forma de esperar
é castrar os olhos e o peito
perjurar e mentir
sossegando o infinito no corpo
e a cabeça girando girando girando.
em luzes que se apagam.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

eu preciso da sua verdade

teatros indeléveis em corpos uno
palavras perduram toda noite em pensamentos
não falo, não ouso falar.
peitos perdidos pela temporalidade da noite,
eu e você contemporâneos e afastados.
a soterrarmo-nos de questionamentos e análises
e onde fica o sentir?
e onde fica a luz?
no breu, o coração não se confunde com o olho
e pupilas fechadas eu penso melhor.
e sinto melhor.
Eu preciso da sua verdade
agora é crucial.

segunda-feira, 31 de março de 2008

ABRAÇA

abraços na avenida na esquina no chão de asfalto duro e de pedra
braços entrelaçados que se acalmam um com o outro quanto tudo é guerra
dedos juntos já se encontram no breu, olha que vem aurora, despedida
embaraçados amantes melhoram seus humores e suas dores caem ao chão
já se vêem mãos partindo, uma e outra se calam subitamente.
Vem a saudade.

lobo bobo

Campo Aberto

campo aberto a gente corre através de um corpo aberto, sentimentalmente dissecado por palavras mudas, e poucas palavras, essas grandes histerias do amor, o mistério. Diante de tudo que queria dizer através dos olhares, através de um espelho perdido, uma imagem escondida, sua ou minha, quem dirá. São mãos trêmulas e tontas que pegam o ar, e se fecham como concha. Guardando o quê? O nada. Mártir aturdido, mártir de coração partido, casado com a dor, o vento virado para o lado em que não vemos nem sentimos, ferido. Facilmente ferido. Fatalmente caído. Fielmente estirado. Mãos atadas; boca fechada, olhos pregados, cabeça no chão, abismo em todo lugar. Tocadamente tonto. Piamente pardo. Casualmente calado. Estranhamente estirado, e tudo mais que for fazê-lo chorar copiosamente um nenê.

quinta-feira, 27 de março de 2008

a mise-en-scène casual

Perdi-me nos antros de um desejo que me envolve cabeça e coração. Tudo que vier depois é mentira. Tudo que estiver aquém é mentira. Tudo que quiser ser não quererá, e eu e você nos bairros escuros, nos atos obscuros, nas palavras reticentes, tudo da gente não mente. Há um riso e uma facada, há um nada e um tudo, há o querer que se põe a querer e a querer quer-se pôr, supor estarmos juntos, supormo-nos juntos, pormo-nos juntos no pôr-do-sol. Solares abraços, abraços embaraçados em meados de uma conversação finita pelo tempo, infinita na revivência, e na convivência do meu quotidiano eu me estranho quando não penso, é comumente sabido minha falha, mas é incomum e espantoso o meu acerto. E nada de certo me põe a falar assim, a agir assim. Já me perdi em tantos. Já desejei tantos. Em tantos senti-mentos, em tantos medos e solidões, tudo que há não há na minha memória emotiva, estou readaptando-me ao porvir inseguro, ao futuro de quê? Você está na boca de cena. Você está com o texto, a palavra, e o improviso nosso será o que diante de tanta gente? Quero mergulhar no nada e reviver o tudo quando me for permitido...o retorno da vida.

terça-feira, 18 de março de 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

Tout va Bien


estar diante da imagem captada em alguma contemporaneidade do passado é estar diante do humano representado por formas, cores, sentidos e sentimentos, tudo num só filme. Por exemplo, Jane Fonda em Tout va bien, é a Jane Fonda da contemporaneidade EUA-França de 1972, carregada de simbolismo e de introspecção, é o mistério da imagem que perpetuada até hoje (2008) nos traz o quê? A "renoção" espaço-tempo, pois então pensar cinema é redefenir a perpetuação, a perenidade, é ter de refilosofar sobre o que isso acarreta diante de nós. É uma verdadeira balbúrdia: John Wayne, Katherine Hepburn, Liz Taylor linda, novinha, Othon Bastos Corisco, Yves Montand, Alain Delon, Anita Ekberg, tudo diante da gente hoje em casa, tudo captado com amor e simbolismo, repousados na nossa estante de dvds. Estou com amor. Estou com amor por Jane Fonda, a jornalista americana em Tout va Bien, mas e a verdadeira Jane Fonda? Não importa mais. Importa sua imagem incrustada na película, seu som na banda sonora, sua verdade é o que vemos. O estrelismo é continuidade, o ator em várias facetas, ele morre. A atuação é a verdade, ela fica.

domingo, 16 de março de 2008

extra-humano


QUE O CORPO E A PALAVRA, IMAGENS NO CINEMA DE HOJE, O NOSSO OLHAR QUE SE PROSTA, QUE A PALAVRA CONTÍGUA, EM NÓS, É VEIA HERMÉTICA, GRUDADA NA NOSSA CABEÇA, PENSA-SE PALAVRA, ESCREVE IMAGEM, IMAGINA. A GENTE SE CALA PARA OUVIR O PENSAMENTO E VEM VERBORRÉICO UMA FRASE, DOIS POEMAS, TRÊS ROMANCES, E IMAGENS. O CINEMA É PARA OS QUE AMAM. O CINEMA E O ROMANCE SÃO PARA OS QUE TÊM CORAGEM DE AMAR, O CINEMA NÃO DESISTE NUNCA DO HUMANO, O CINEMA É DO HUMANO, SUA VERDADEIRA E MAIS PROFUNDA IMAGINAÇÃO. A PALAVRA APELA PARA O CINEMA PARA SE FAZER VISTA. A PALAVRA SOZINHA É UM MUNDO. O CINEMA SOZINHO É OUTRO. O CINEMA E A PALAVRA JUNTOS SÃO UNIVERSOS, GALÁXIAS, EXISTÊNCIAS EXTRA-HUMANAS.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Dos rins e do coração (2008)

eu fiz esse vídeo, nem sei como é que ficou, talvez ninguém veja. Ele é puro improviso, os atores às vezes falham, às vezes acertam e com grande mérito, e meu gozo sobe, tem uma cor opaca, o vídeo às vezes é opaco, estranho, a música final então! É um japa cantando capela uma voz arrastada, mas é lindo, tem a cena do carro também, a minha favorita, mas no todo o vídeo pode até ser cansativo, mas é como uma relação de casal: cansa! E eles estão os dois no meio do mato (?) com roupas de gala (?) eu imaginei uma coisa meio Antonioni, eles saíram de uma festa, ao amanhecer, ficaram discutindo até agora (já é tarde na diegese) e estão fatigados discutindo o amor, a operação dela, as incertezas, uma doideira só. A montagem pode até parecer estranha, tem sim seus jump-cuts, mas a primeira ou segunda cena, a maior e mais densa de todas, eu fiz questão de não cortar nada! Até mesmo porque é pura improvisação, exceto quando os dois desandam a falar o textinho que eu havia dado a eles: burrice! Continuassem sem ter de passar o texto ipsis literis, mas tudo bem, eu e eles estávamos aprendendo e errando juntos! Mas taí, quem quiser ver me peça. Não vou colocar no youtube nem nada porque não sei comprimir, e vai acabar com a qualidade se o fizesse, então é isso.


domingo, 9 de março de 2008

Amarelo crepuscular

O que é isso amarelo, crepuscular e singelo, vermelho no firmamente, firme e estranho, se faz constante nos riscos coloridos. Crepúsculo-fim-de-mundo, a gente entende no céu que é pra viver com pressa, que o tempo áureo humano se esgota, e desgasta o desejo, o lábio, o coração, a mente, tudo com precisão inexiste, e as palavras se esgotam. Crepúsculo corriqueiro, a gente vê no céu alarmante, eu quero um amor fim-dos-tempos, e me agarrar nos seus eu-te-amo pluralizados, todas as noites vociferados para eu saber que fui amado, quando o mundo se acabar. E nossa morte, um monte de corpos amontoados, será fulgurante, porque todos amantes amaram com fidel e facilidade, na reciprocidade dos beijos e anseios, tudo de mais se fez nas mãos dadas, nos afagos carinhos, a gente vendo tevê. E o amarelo crepuscular anuncia que eu e você estamos juntos pós-morte, dimensionados no vento, belamente amantes, dimensionados num tempo inexistente, pra se fazer eterno, porque a provação primeira veio, e a gente passou: a gente ficou junto. Entende?

Transcrito do caderno exclusivo para minha posteridade e intimidade

corpos estatuosos
tortuosos nos anseios
calados falam músicas
pegam táxis madrugadas
são os corpos da solidão.
A vacuidade constante
você sabe é amante
do que é fugidio
então eu penso em você
eternidade
e desejo em você
eternidade
e sinceridade, você
eternidade
para que nós sejamos
a mais bela verdade
dos últimos tempos
nessa cidade
que passa.

Hey Steeeella

Marlon Brando grita seu nome em uma rua chamada pecado ou um bonde chamado desejo, pecado e desejo, Marlon Brando grita. A lua ilumina a gente e o grito, que continua tão longo e persistente. Strokes toca lá fora a gente nem quer mais dançar, eu olho no seu olho e vejo uma infinidade de gracejos, a gente falaria sobre cinema a noite inteira, e eu imitaria Marlon Brando berrando seu nome, era prá você, mas a lua já ia se pôr e eu cansei de ficar aqui, lá. Você me convida para um drinque, e a gente dança Strokes a noite inteira, a lua ilumina ainda. Afaga meus cabelos. Me afoga.

http://www.youtube.com/watch?v=S1A0p0F_iH8

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hiroshima, mon amour

cabelos enevoados
sonhos passados e lembranças eu desejaria que ficassem
mas toda e qualquer forma de opressão
parece ser a mim remetida.
estou diante de meu corpo nu,
desmanchado, manchado com suas palavras
eu me vi diante da vacuidade a que era inserida quando olhava retratos
pernoitei nostálgica nas memórias do meu soldado
e soldei ferros e grades ao meu redor
não via mais nada
não era mais nada
a não ser Nevers
e com você eu podia ser banida de mim mesma,
em Hiroshima.

domingo, 2 de março de 2008

899552379-9982-3326. 39. 2 96 3 00065 6 3

meu código de existência num mundo automatizado pela inexistência.

Poesia ardida

Já é hora de acordar, o sol saiu impávido.
Toda vez que venho sua face meio iluminada
eu sinto uma vontade de tocá-la com meus dedos,
já acordou agora e meus lábios são duros e secos,
estou e não estou com você.

Já se fez o tempo de sentir vontades,
você vai ao supermercado comprar o quê?
Eu vou com você
no meu silêncio cheio, no meio da caminho
revejo seus olhos, não há nada mais bonito.

E se entardecer rapidamente
nos enlouqueceremos no carpete
e seremos dois esquecidos
os ponteiros podem até quebrar
não há porque notar o tempo.

E se anoitecer vagarosamente
a gente se encanta com a nuvem que vem
a gente não vai sair essa noite, a gente se aproveita
e a lua é o abajur da rua, e você nunca reclama da minha vaguidão.

Nem hoje nem amanhã
pegaremos estação para ir a lugar algum
eu e você quereremos ficar.

nem hoje, nem amanhã, nunca direi

Toca a campainha e você se sente tocado, acha que é seu amor com um copo de lisonjeios diretos para você, como quem diz e espera um eu te amo tão doce e antigo já nas suas sensações de amar. Eu sei que o esperar cansa, mas a campainha, lamento, não era para você, até era, mas não era o seu amor, era a dor vestida de longo, cerimoniosa pedindo passagem, vai vir, entrar, se sentar, pedir um copo d´água e dizer que ele foi embora. Simplesmente assim, foi embora e não disse em qual trem embarcara, nem o destino. Talvez Chile, Buenos Aires, Montevidéu, pode ser, mas e se pensássemos em mandá-lo para a lua, não seria tão ruim, ficaríamos a sós, eu e você nessa canção de embalo. Cat power arrastada no som da sala, um filme posto para a gente se pôr no sofá, deitados em carinhos e carícias, você não iria reclamar. A dor já se foi, e agora vem o consentimento, o sofrimento já se foi, e agora fica a esperança prenha. Estamos até que nos dando bem. Você imaginaria? Há sensações duvidosas dentro de você que eu não quero nem saber, nem arrancar, nem questionar, a gente tá tão bem assim.
Nem hoje, nem amanhã, nunca direi o quanto te amo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

longos versos querem dizer a coisa mínima: que não posso falar agora.

finda o céu quando te vejo
não receio a solidão
mas eu prefiro você.

Na televisão barulhenta
o som esvai dos meus ouvidos
e sua voz é a que fica
sua fala é a que se demora
e eu não me demoro a acostumar.

Trouxe um pouco de esperança
a espera não arde tanto
à espera, tudo se prolonga
estou longe e concentrado em longos versos.

Verseja o momento em que nos vemos
estamos e não estamos na mesma contemporaneidade
há um fio tênue para você se dispersar
e me dispensar como quem não quer mais saber,
pode ser, a vida é longa o suficiente.

Na televisão barulhenta
o que se passa é o que passa
o que não passa é a memória sua
melhorada em minha idealização
talvez seja a ação mais estúpida minha
mas eu me permito.

Dizer, dizer,
não estou pronto para estar entregue
o estado de espírito varia, você deverá saber
que a sua monossilábica resposta
não me afasta dos toques prováveis,
e minha imprevisibilidade vai além
do que você poderá crer.

Sua, a minha distância
é a primeira instância
de muitos momentos
pode ser que tudo se dilua
mas não acaba.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

a tirania da memória

De hoje em diante serei faca no meu passado

Tropeço

tantas veias velhas
tarântulas em teias
perambulam pelo pó
tantas velhas vêem
o que se foi
defronte o que é.
Paredes paradas
fios de memórias em porta-retratos que nada retratam.
Paredes paradas
suas veias sobem suas pernas como trepadeiras em troncos.
Paredes paradas
você, senhora, sonha em ser o quê?
A morte mansa,
responde cru.
Tantas velhas viagens
tantas médias passagens
tantas pedras pisadas
tantos pares de pôres,
tantos amores findos
tantos sonhos falidos
tantos peitos ocos
tantos poucos desejos
hoje a velha tropeça na sua esperança
e morre de tédio.

O homem moderno dissipado após uma crise de sentimentos, ou então, a sentimentalização do seu relógio, ele ficou prá trás.

tudo é mudo.
toda sua expressão emudeceu
toda sua feição embraqueceu
e eu me tornei refém da sua vacuidade.

tudo é o todo branco no seu corpo
e a gente se despede da pigmentação de sua fala
a gente tropeça no estranhamento que me causa o seu discurso
e tudo continua anulado em seus beijos embebecidos de nó.

os seus olhares que é que são?
novas formas de constelações mortas
e rosas em roseiras arrancadas por um jardineiro vil.

o que eu estou te falando é que você é feito de cor sépia
o furta-cor das suas mãos já não toca mais nada
e você, homem niilista foi engolido por palavras sem valor
e tudo ao seu redor é nada...