sábado, 16 de agosto de 2008

O café

Mesa pra dois com um, com dois, depois. Que tarde. Sobre as tardes às vezes digo palavras de tédios, que são traduções de uma tarde livre, que são sensações de uma tarde ensolarada, e a gente na rua. Aquela tarde traduzo com palavras bonitas, e um pouco de um silêncio. Vaguear sozinho é bom, encontrar outro sozinho, é tão bom. E a poesia que se forma é melhor ainda. São poesias ágeis, de olhares, um feitio estranho, olhar um estranho e se deparar com um estranho que virá a ser um conhecido, mais, virá a ser um conhecido-desejo, ou um desejo conhecido, mas sempre novo. Caminhar pela tarde tediosa e vaguear por desejos é tão estranho, é mais estranho estar ao lado de um estranho que invade docemente sua mesa, e pergunta quem é você de forma tão adorável e singela, que o estranho se torna em tamanho um gigante conhecido, que reparte com você um fim de tarde, uma sessão de cinema, um céu, um sol, um seu, o sou, reparte, compartilha, descobre, antevê o que você não esconde. Tirou a caneta da minha mão que era pra eu parar de tremer de vergonha, me avisa quando eu estiver vermelho que eu páro. E a gente cara a cara, face a face, temendo a tarde ir embora depressa, a gente sem pressa aproveitava o tédio para fazer do estranho o tamanho desejo. E teu antever me desnudou de tal forma...Uma mesa tão grande, eu sozinho. Mesa tão grande, você sozinho. Mesa pra dois com um, com dois, depois, me avisa se eu estiver vermelho. Várias vezes você estava. Não importa a tarde, não importa o tempo, o relógio. A sessão cessou. Andar pelo fim de tarde, anoitecendo, é descobrir mais sobre você, sobre mim.

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