segunda-feira, 31 de março de 2008

ABRAÇA

abraços na avenida na esquina no chão de asfalto duro e de pedra
braços entrelaçados que se acalmam um com o outro quanto tudo é guerra
dedos juntos já se encontram no breu, olha que vem aurora, despedida
embaraçados amantes melhoram seus humores e suas dores caem ao chão
já se vêem mãos partindo, uma e outra se calam subitamente.
Vem a saudade.

lobo bobo

Campo Aberto

campo aberto a gente corre através de um corpo aberto, sentimentalmente dissecado por palavras mudas, e poucas palavras, essas grandes histerias do amor, o mistério. Diante de tudo que queria dizer através dos olhares, através de um espelho perdido, uma imagem escondida, sua ou minha, quem dirá. São mãos trêmulas e tontas que pegam o ar, e se fecham como concha. Guardando o quê? O nada. Mártir aturdido, mártir de coração partido, casado com a dor, o vento virado para o lado em que não vemos nem sentimos, ferido. Facilmente ferido. Fatalmente caído. Fielmente estirado. Mãos atadas; boca fechada, olhos pregados, cabeça no chão, abismo em todo lugar. Tocadamente tonto. Piamente pardo. Casualmente calado. Estranhamente estirado, e tudo mais que for fazê-lo chorar copiosamente um nenê.

quinta-feira, 27 de março de 2008

a mise-en-scène casual

Perdi-me nos antros de um desejo que me envolve cabeça e coração. Tudo que vier depois é mentira. Tudo que estiver aquém é mentira. Tudo que quiser ser não quererá, e eu e você nos bairros escuros, nos atos obscuros, nas palavras reticentes, tudo da gente não mente. Há um riso e uma facada, há um nada e um tudo, há o querer que se põe a querer e a querer quer-se pôr, supor estarmos juntos, supormo-nos juntos, pormo-nos juntos no pôr-do-sol. Solares abraços, abraços embaraçados em meados de uma conversação finita pelo tempo, infinita na revivência, e na convivência do meu quotidiano eu me estranho quando não penso, é comumente sabido minha falha, mas é incomum e espantoso o meu acerto. E nada de certo me põe a falar assim, a agir assim. Já me perdi em tantos. Já desejei tantos. Em tantos senti-mentos, em tantos medos e solidões, tudo que há não há na minha memória emotiva, estou readaptando-me ao porvir inseguro, ao futuro de quê? Você está na boca de cena. Você está com o texto, a palavra, e o improviso nosso será o que diante de tanta gente? Quero mergulhar no nada e reviver o tudo quando me for permitido...o retorno da vida.

terça-feira, 18 de março de 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

Tout va Bien


estar diante da imagem captada em alguma contemporaneidade do passado é estar diante do humano representado por formas, cores, sentidos e sentimentos, tudo num só filme. Por exemplo, Jane Fonda em Tout va bien, é a Jane Fonda da contemporaneidade EUA-França de 1972, carregada de simbolismo e de introspecção, é o mistério da imagem que perpetuada até hoje (2008) nos traz o quê? A "renoção" espaço-tempo, pois então pensar cinema é redefenir a perpetuação, a perenidade, é ter de refilosofar sobre o que isso acarreta diante de nós. É uma verdadeira balbúrdia: John Wayne, Katherine Hepburn, Liz Taylor linda, novinha, Othon Bastos Corisco, Yves Montand, Alain Delon, Anita Ekberg, tudo diante da gente hoje em casa, tudo captado com amor e simbolismo, repousados na nossa estante de dvds. Estou com amor. Estou com amor por Jane Fonda, a jornalista americana em Tout va Bien, mas e a verdadeira Jane Fonda? Não importa mais. Importa sua imagem incrustada na película, seu som na banda sonora, sua verdade é o que vemos. O estrelismo é continuidade, o ator em várias facetas, ele morre. A atuação é a verdade, ela fica.

domingo, 16 de março de 2008

extra-humano


QUE O CORPO E A PALAVRA, IMAGENS NO CINEMA DE HOJE, O NOSSO OLHAR QUE SE PROSTA, QUE A PALAVRA CONTÍGUA, EM NÓS, É VEIA HERMÉTICA, GRUDADA NA NOSSA CABEÇA, PENSA-SE PALAVRA, ESCREVE IMAGEM, IMAGINA. A GENTE SE CALA PARA OUVIR O PENSAMENTO E VEM VERBORRÉICO UMA FRASE, DOIS POEMAS, TRÊS ROMANCES, E IMAGENS. O CINEMA É PARA OS QUE AMAM. O CINEMA E O ROMANCE SÃO PARA OS QUE TÊM CORAGEM DE AMAR, O CINEMA NÃO DESISTE NUNCA DO HUMANO, O CINEMA É DO HUMANO, SUA VERDADEIRA E MAIS PROFUNDA IMAGINAÇÃO. A PALAVRA APELA PARA O CINEMA PARA SE FAZER VISTA. A PALAVRA SOZINHA É UM MUNDO. O CINEMA SOZINHO É OUTRO. O CINEMA E A PALAVRA JUNTOS SÃO UNIVERSOS, GALÁXIAS, EXISTÊNCIAS EXTRA-HUMANAS.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Dos rins e do coração (2008)

eu fiz esse vídeo, nem sei como é que ficou, talvez ninguém veja. Ele é puro improviso, os atores às vezes falham, às vezes acertam e com grande mérito, e meu gozo sobe, tem uma cor opaca, o vídeo às vezes é opaco, estranho, a música final então! É um japa cantando capela uma voz arrastada, mas é lindo, tem a cena do carro também, a minha favorita, mas no todo o vídeo pode até ser cansativo, mas é como uma relação de casal: cansa! E eles estão os dois no meio do mato (?) com roupas de gala (?) eu imaginei uma coisa meio Antonioni, eles saíram de uma festa, ao amanhecer, ficaram discutindo até agora (já é tarde na diegese) e estão fatigados discutindo o amor, a operação dela, as incertezas, uma doideira só. A montagem pode até parecer estranha, tem sim seus jump-cuts, mas a primeira ou segunda cena, a maior e mais densa de todas, eu fiz questão de não cortar nada! Até mesmo porque é pura improvisação, exceto quando os dois desandam a falar o textinho que eu havia dado a eles: burrice! Continuassem sem ter de passar o texto ipsis literis, mas tudo bem, eu e eles estávamos aprendendo e errando juntos! Mas taí, quem quiser ver me peça. Não vou colocar no youtube nem nada porque não sei comprimir, e vai acabar com a qualidade se o fizesse, então é isso.


domingo, 9 de março de 2008

Amarelo crepuscular

O que é isso amarelo, crepuscular e singelo, vermelho no firmamente, firme e estranho, se faz constante nos riscos coloridos. Crepúsculo-fim-de-mundo, a gente entende no céu que é pra viver com pressa, que o tempo áureo humano se esgota, e desgasta o desejo, o lábio, o coração, a mente, tudo com precisão inexiste, e as palavras se esgotam. Crepúsculo corriqueiro, a gente vê no céu alarmante, eu quero um amor fim-dos-tempos, e me agarrar nos seus eu-te-amo pluralizados, todas as noites vociferados para eu saber que fui amado, quando o mundo se acabar. E nossa morte, um monte de corpos amontoados, será fulgurante, porque todos amantes amaram com fidel e facilidade, na reciprocidade dos beijos e anseios, tudo de mais se fez nas mãos dadas, nos afagos carinhos, a gente vendo tevê. E o amarelo crepuscular anuncia que eu e você estamos juntos pós-morte, dimensionados no vento, belamente amantes, dimensionados num tempo inexistente, pra se fazer eterno, porque a provação primeira veio, e a gente passou: a gente ficou junto. Entende?

Transcrito do caderno exclusivo para minha posteridade e intimidade

corpos estatuosos
tortuosos nos anseios
calados falam músicas
pegam táxis madrugadas
são os corpos da solidão.
A vacuidade constante
você sabe é amante
do que é fugidio
então eu penso em você
eternidade
e desejo em você
eternidade
e sinceridade, você
eternidade
para que nós sejamos
a mais bela verdade
dos últimos tempos
nessa cidade
que passa.

Hey Steeeella

Marlon Brando grita seu nome em uma rua chamada pecado ou um bonde chamado desejo, pecado e desejo, Marlon Brando grita. A lua ilumina a gente e o grito, que continua tão longo e persistente. Strokes toca lá fora a gente nem quer mais dançar, eu olho no seu olho e vejo uma infinidade de gracejos, a gente falaria sobre cinema a noite inteira, e eu imitaria Marlon Brando berrando seu nome, era prá você, mas a lua já ia se pôr e eu cansei de ficar aqui, lá. Você me convida para um drinque, e a gente dança Strokes a noite inteira, a lua ilumina ainda. Afaga meus cabelos. Me afoga.

http://www.youtube.com/watch?v=S1A0p0F_iH8

quarta-feira, 5 de março de 2008

Hiroshima, mon amour

cabelos enevoados
sonhos passados e lembranças eu desejaria que ficassem
mas toda e qualquer forma de opressão
parece ser a mim remetida.
estou diante de meu corpo nu,
desmanchado, manchado com suas palavras
eu me vi diante da vacuidade a que era inserida quando olhava retratos
pernoitei nostálgica nas memórias do meu soldado
e soldei ferros e grades ao meu redor
não via mais nada
não era mais nada
a não ser Nevers
e com você eu podia ser banida de mim mesma,
em Hiroshima.

domingo, 2 de março de 2008

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meu código de existência num mundo automatizado pela inexistência.

Poesia ardida

Já é hora de acordar, o sol saiu impávido.
Toda vez que venho sua face meio iluminada
eu sinto uma vontade de tocá-la com meus dedos,
já acordou agora e meus lábios são duros e secos,
estou e não estou com você.

Já se fez o tempo de sentir vontades,
você vai ao supermercado comprar o quê?
Eu vou com você
no meu silêncio cheio, no meio da caminho
revejo seus olhos, não há nada mais bonito.

E se entardecer rapidamente
nos enlouqueceremos no carpete
e seremos dois esquecidos
os ponteiros podem até quebrar
não há porque notar o tempo.

E se anoitecer vagarosamente
a gente se encanta com a nuvem que vem
a gente não vai sair essa noite, a gente se aproveita
e a lua é o abajur da rua, e você nunca reclama da minha vaguidão.

Nem hoje nem amanhã
pegaremos estação para ir a lugar algum
eu e você quereremos ficar.

nem hoje, nem amanhã, nunca direi

Toca a campainha e você se sente tocado, acha que é seu amor com um copo de lisonjeios diretos para você, como quem diz e espera um eu te amo tão doce e antigo já nas suas sensações de amar. Eu sei que o esperar cansa, mas a campainha, lamento, não era para você, até era, mas não era o seu amor, era a dor vestida de longo, cerimoniosa pedindo passagem, vai vir, entrar, se sentar, pedir um copo d´água e dizer que ele foi embora. Simplesmente assim, foi embora e não disse em qual trem embarcara, nem o destino. Talvez Chile, Buenos Aires, Montevidéu, pode ser, mas e se pensássemos em mandá-lo para a lua, não seria tão ruim, ficaríamos a sós, eu e você nessa canção de embalo. Cat power arrastada no som da sala, um filme posto para a gente se pôr no sofá, deitados em carinhos e carícias, você não iria reclamar. A dor já se foi, e agora vem o consentimento, o sofrimento já se foi, e agora fica a esperança prenha. Estamos até que nos dando bem. Você imaginaria? Há sensações duvidosas dentro de você que eu não quero nem saber, nem arrancar, nem questionar, a gente tá tão bem assim.
Nem hoje, nem amanhã, nunca direi o quanto te amo.