quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
pretérito imp.
se debatesse e atirasse
num rio profundo de mágoa
sem canoa à borda, sem borda.
como se quisesse,
se estirasse sob o sol a pino
num dia fundo de azul sem fundo
o horizonte altivo clareia.
como se pudesse,
ser homem e criança ao mesmo tempo
relembrar dos velhos tempos
vivendo nos novos
desejar voltar, sem arredar o pé.
Bastasse, quisesse, pudesse...
nada aconteceu.
divagação à toa.
Olhos Negros

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
interação com pequenas formas disformes de sentir
não tem cabimento
quando a gente se vê
coisas mexem por dentro.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
sorriso silêncio
e cookies de café de sobremesa,
te quero na mesa do jantar
frente a meu rosto de vontade,
quero você frente ao espelho
e ao fundo meus pensamentos sobre nós.
Vou fazer poesias perdidas pra você
que se farão entender
quando você as ler
tão loucas e belas
flores de um caderno velho.
vou fazer malabarismos por você
e ouvir você dizer você
em resposta
um silêncio sorriso
ou um sorriso silêncio.
Vou nascer e morrer
pra você
vou me refazer e desconstruir
tudo que outrora era verdade
agora pra gente a nossa verdade
é veia, e vela, é fio, e fala, e folha.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
auto-retrato
parti de memórias pra me perder em mim,
só assim me conheço,
só assim reconheço a face no espelho.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
cuerpos completos
escucha el vacío todo lleno
hay recuerdos incompletos
pon los tuyos
y hagamos
de los tuyos, míos
de los míos, tuyos
para que asía podamos ahora decir:
nuestros cuerpos completos
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
O Vizinho do piso superior
"O róseo-púrpura do crepúsculo desce atrás dos prédios, oferece-me, num quarto de hora, uma paz acolhedora. Anos após anos, meus olhos, curiosos e
aventureiros, do outro lado, na estrada tortuosa que se perdeu no passado. Com as mãos nas grades, com a dúvida a pedir um pouco de meditação, permaneço absorto. Não demorará muito para escurecer. Se fosse jovem, seria fácil recuar. A lua, com seu corpo transparente, desenha minha sombra na parede. Sou uma sombra. “Como é fria a parede...” O mesmo frio interior. As grades, enferrujadas pelo tempo e pela falta de manutenção, não oferecem resistência. Com o tempo, a impotência nos coloca frente a frente com a morte, fica mais simples aceitá-la. Maldito medo do desconhecido! Embaixo, uma multidão corre riscos, não se deixa influenciar pelas estatísticas. O cemitério construído ao fundo é um aviso. Já não me incomoda. Em determinadas situações, a própria morte acaba sendo uma opção. Nenhum ruído, um pó ferruginoso forrou o chão ao tirar minhas mãos da grade. Nunca minha sombra esteve tão presente. Trazia bom agouro, não havia dúvida. Ou eu queria que trouxesse... Rareavam os que passavam lá embaixo. Estavam, com certeza, entre paredes, protegidos em suas fortalezas. Andamos em círculos, às vezes maiores, às vezes menores. Assusta-me a idéia de não sair do lugar.
Escurece rapidamente; mais rápido, o meu cansaço. Cansaço de não fazer nada, somente contemplar. Como o faço agora com as janelas que alternam claros-escuros. Como um véu transparente, uma nuvem cendrada recobre a lua. Noite para bruxas, noite vazia, noite dos amantes que apagam e acendem
luzes, abrem e fecham cortinas. Abraço o travesseiro, já não sou observado pela lua. Faz silêncio. Uma noite íngreme, cheia de obstáculos, fluía além das grades. Parei o olhar alguns segundos no crepúsculo que se apresentava do outro lado. Sentia o olhar do passado a me puxar, como o ímã a um metal, de volta ao meu espaço. Tentava não ceder, em vão. Pedras enormes, desgastadas e sulcadas,formavam a parede que suava o meu medo. Era passado. Pedra após pedra, a esperança de liberdade se esvaía. Uma fortaleza construída em função de nossos medos e incertezas, a registrar os limites entre quatro paredes. Haveria algum sentido? Os homens se esquecem do caminho que leva a vales e montanhas. Distraem-se em sonhos. Recusam a vida. Enclausuram-se em castelos medievais. Amanhece. A luz flagrou-me sentado, desenha as grades em meu rosto, traz minha sombra, enquanto eu observo um besouro que, aprisionado entre minhas pernas, caminha em círculos. Lá embaixo, a cidade acorda. Uma multidão observa um corpo estirado no chão. Sobre seu corpo, o letreiro anuncia a temperatura e as condições do ar. Morreu em dia fresco e com o ar respirável. Estranho... Pela primeira vez, não ouço os passos no piso superior... Do quarto para o banheiro, do banheiro para a cozinha, da cozinha para o quarto... Foi o vizinho do piso superior..." Carlos Rosa
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
prosear na tarde seca
estos ojos
parecen aguas turbias
son tan tristes que encierran
el día y el sol
no me olvidaré jamás
de tu seriedad trémula
de tus palavras incisivas
de como tú bailas jazz
con tus manos y tus brazos
de cómo me dices no
terça-feira, 23 de setembro de 2008
translúcido
palavras POUCAS.
DIZER bem pouco.
você é o desenho de um mistério.
você é o mistério de um desenho.
você é verso, é veia, você é vento,
você é vontade e desconhecido
é um estranho familiar,
uma doce visita,
que se pede pra ficar
mais.
todo TRANSLÚCIDO
todo ameno,
você é o meio e o fato
você é o receio e o instante,
instantâneo e disparado,
você é estranho
tão bem eu seu,
também eu o sou.
Translúcido e sereno,
você é o momento de ficar.
Você é o cheio, o todo, o completo,
você é o repleto, discreto, distante
você é o perto e perfumado
você é alarde, e às tonterias que faço,
ri. ri mais. mais ri.
o garoto da avon
e seus rabiscos
e pinceladas pixalizadas
e reentrâncias num mundo aberto
literalmente um céu aberto,
um campo aberto
pra percorrer
com dedos e passos fortuitos
no imprevisto perfeito
o pretérito perfeito inexiste
e sabe o pensamento
perdura.
sábado, 13 de setembro de 2008
louco no sábado louco
juntou vidros
cacos espalhados
espalhou uma raiva na penumbra
acendia a luz enquanto derramava o uísque
esgueirou-se diante do anteparo
o espelho refletiu sua face incômoda
ele não estava nada comedido.
caminhou em desalentou
desastrado sorriu pra janela
abriu-a ouvindo rock
quis sair, mas não encontrou a chave
todo bêbedo imaginou-se sóbrio
quando sóbrio, não largou o uísque.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
sábado, 30 de agosto de 2008
torrente calmaria
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Reflexo

Noite de Kino. São Paulo, mais precisamente Cinemateca, 24 de agosto, estávamos prontos pro tema, numa espécie de corrida com a câmera, os atletas deveriam gravar e editar em menos de 48 horas sobre o tema dado: política viva! Política? É tão amplo, tão aberto e perigoso, como dizer de algo que nem eu bem sei se sei. Como falar de uma abstração tão presente, mas às vezes tão invisível? Aceito o desafio, pusemo-nos logo pra pensar, o que queremos fazer? Eu, Yasmin e Camila, mal sabíamos o que nos esperava, o verdadeiro idílio perigoso ao qual nos meteríamos. Ok. O que temos em mãos? Uma São Paulo inteira num domingo, o que era ainda melhor, mais vazia, mas não menos instigante.
Decidimos por visitar lugares históricos e falar sobre o esvaziamento de valores e de história desses lugares, ou melhor, lugares marcados por uma data específica e que contivessem uma carga política extremamente forte. Pensamos no DOPS (órgão de repressão durante a ditadura), na Praça da Sé, palco das Diretas Já, o TUCA, o teatro aonde os atores de Roda Viva foram espancados na ditadura, Rua Maria Antônia, palco da Batalha da Maria Antônia, um enfrentamento entre estudantes em 1968, o Teatro Oficina, útero de peças emblemáticas para a história cultural do Brasil como O rei da Vela, eram tantos lugares, tão distantes uns dos outros, e nós contávamos com cash mínimo, metrô, e vontade, apenas. Logo de cara uma sorte imensa: uma mulher pediu pra sentar com a gente lá na Cinemateca, não queria sentar sozinha, estava sozinha, e começamos conversar, todos, e descobrimos que era performancer, atriz também, Adriane Gomes. É ela, pensamos, e logo aceitou o convite, extremamente atenciosa e disposta a dividir com a gente essa batalha da câmera, do tempo, do tema, da criatividade.
Sob algumas orientações do Professor Alessandro, decidimos por cercar o tema de forma menos abstrata e mais específica, falaríamos de política no dia-a-dia em lugares com peso histórico, ponto. E a Adriane seria a passante, a transeunte, e por fim, a performancer. O trabalho não poderia demorar para se dar início, e o fizemos tão crentes de que seria um longo dia, mas não sequer imaginávamos o que nos aguardava.
Gravamos algumas cenas na Maria Antônia, rua emblemática aonde se encontram as universidades Mackenzie e USP, antigamente escola de Filosofia, hoje, centro de recreação, lá, enfrentaram-se os estudantes, integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) versus os estudantes da Universidade de São Paulo, alinhados mais à esquerda. Pancadaria e morte: a vítima, um estudante secundarista de 20 anos, José Carlos Guimarães. Depois, a Sé, dentre pregações, homens bêbados, turistas, Adriane subiria ao marco zero e pregaria política, muda, já que na edição o som era tão somente o ensurdecedor sino da catedral. Essa cena quase nos resultou em prisão: subir no marco zero é proibido! Obviamente não era uma depredação pública, era uma intervenção pública, e só. O policial que quase nos cantou voz de prisão estava estátua atrás da gente, a vigia e a ordem nos perseguia. Em seguida, o DOPS, uma emoção macabra, as celas expostas com fotos de prisioneiros, pareciam celas medievais, portas grossas, ferros pontiagudos; não foi permitido gravar nada, mas sentir tudo aquilo foi-nos cena forte e sangrenta, uma seqüência de horror, que hoje é mascarada com visitas guiadas e iluminação própria, é o show de horror, o entretenimento da dor.
Nessas andanças pelo centro, vimos de tudo de política viva, ou ausência dela: mendigos, crianças, todos esses elementos perturbadores, característicos de uma cidade grande, contraditória e suja. Culminamos na Paulista, o centro financeiro de São Paulo, reduto de todo tipo de gente, todo tipo de política. Lá seria o clímax do vídeo com a performance da Adriane portando um vestido espelhado, com luzes refletindo, em meio a carros e pedestres. Antes disso, deparamo-nos com Verdi, um senhor culto, um mendigo sóbrio, ácido e pessimista. Praguejava coisas como “tem de jogar uma bomba no congresso nacional”, coisas do tipo, mostrou-nos lúcido e inteligente, extremamente crítico, politizado, uma contradição, a personificação da política viva, errante...um são em pele de louco.
Mais que sair para gravar algo, o importante foi sentir o tema antes de qualquer coisa, durante esse processo. Poder com sinceridade discursar visualmente sobre o que é, ou pelo menos o que vimos de política viva, dentre um território tão grande, em cima de uma linha tênue, oscilante, que é política. Confrontarmo-nos após tantas revelações nesse dia, dar atenção àqueles que são invisíveis, ouvir os loucos, não tão loucos assim, sentir o peso da vigia, da ordem e segurança pública, tudo isso mexeu com a gente, nos deixou mais preparados, e emocionados também. Na exibição, o que vimos, foram curtas e curtas, uns subjetivos e alienados, outros engajados inconsistentes, outros alegres, pirotécnicos, fracos, mas uns verdadeiros e emocionantes. O bom foi ver a diversidade de olhar, as multifacetadas formas de se produzir com pouco, criativa e intuitivamente, talvez um reflexo da própria Universidade, reduto de ensino e de fraquezas, nós, como estudantes audiovisuais temos grande dilema e desafio: produzir com pouco, criativa e diversamente, apontar nossas câmeras para o que vemos, e refletir, o que somos. A Noite de Kino foi isso.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
faróis e incêndios
alumiam-nos
seu rosto na noite alaranjado
meu rosto é a noite toda escura
tua mão no escuro da noite
disforme
minha mão na noite do escuro
distoa.
pelo apelo
de tua pele pelo apelo
perfurante, partilha do medo
consoante
ao desespero, vem a espera
e todo o esmero de se fazer entender
quando que se quer não se entende
ou quando o que se entende não se quer
por mais que saiba
por mais que permita
todo o menos ativa
todo o mais
e você, distante ou mais distante
se esgueira noutro caminho,
que eu ainda não alcanço;
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
a tábua de esmeralda
acalendariado
Polaroids
quero pintar na tela e tirar uma foto
eu quero pintar uma tela tirar uma foto e crescer
eu quero alcançar os 3 m
eu quero ser bailarino e sair à rua dançando
eu quero alcançar os postes e amarrar fitas coloridas neles
eu quero o eles
eu quero o elas
eu quero pintar uma tela abstrata
eu quero seguir abstrato, e coerente, às vezes
eu quero o bocejo o ensejo o seio tão mais
eu quero mais e a tela e os 3 m e o balé
eu quero uma foto de você
e espelhos dispostos no quarto
eu quero o ato
eu quero
eu erro
eu encerro
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Carmen de Godard

segunda-feira, 18 de agosto de 2008
São Jorge Power (NÃO TERMINEI)
sábado, 16 de agosto de 2008
O café
domingo, 10 de agosto de 2008
cava no canyon sua memória
mas ei que ressurgido um céu se invade e tece
toda a face da espera e do seio
o sol sobrevê o outro lado da noite
e não teme,
cava no canyon memória dourada
de beijos latentes lascivos,
anseios carentes, perdidos e desconexos
hoje a noite não treme de frio.
Há nuvens milhares delas a nos cobrir
felizes de tanta noite ao nosso redor
que se o amanhecer vier, a luz afaga
mesmo as luzes dos postes
mesmo os pés cansados
mesmo o carinho de mãos que outrora se desconheciam,
você corre cavando a sua memória no meu corpo
e eu pouco a pouco me revelo, me entrego.
São fomes, são seios, são néctares em sincronia com flores perfeitas
o jardim e a relva revelam-no na escuridão
e os violinos cantam, gritam, exageram
como é bom te ter nos braços
embraçando-nos
barcos a velas no seu mar.
domingo, 8 de junho de 2008
toda minha sombra
toda minha sombra assopra
toda minha sombra no sopro
o seio solto, o seio moreno
o seio pendido, o seio partido, pisado
o seio selado, suado, vendido
o seio-sopro
o solto, o selo, o sonho, o salto.
toda minha sombra senta
toda minha sombra sua
toda minha sombra sobre
as paredes de memória mentiras
as paredes de outrora, caídas
as verdades em diários
as verdades nos armários,
os objetos que restaram
os seios.
o perfurar do olhar na fotografia
com o encontro da minha sombra
no passado, pesado.
Sobra.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
segunda-feira, 2 de junho de 2008
AMOR E GUERRA
Ator de nossa fome, de nossa vontade, criação coletiva, acabamento coletivo, o êxtase é nosso, todo nosso vício, nosso medo, toda nossa estranheza. Implica em amar. Implica em amor.
sábado, 31 de maio de 2008
GUERRA E AMOR

segunda-feira, 26 de maio de 2008
interurbano
sábado, 24 de maio de 2008
A IDADE DA TERRA
diante de Brasília bravatas e querelas
diante da câmera de Glauber, seqüelas
de uma história brasileira.
Caminham Brahms e Cristos
crucificados insepultos e transeuntes
falantes, farsantes e famintos
caminham Cristos em solo nacional
caminha Glauber diante do sol
DESORDEIRO E ANTI-FÍLMICO
magnificado pelas palavras proféticas
realiza incursões estéticas e enfáticas
em BRAHMS o estrangeiro, o outro-anti-nacional
o ouro da nossa Terra é nossa
e a vontade de guerra de Cristos
perpassa frames, francamente falantes.
FILME TESTAMENTO FILME ANUNCIAÇÃO
FILME FUMAÇA FILME FOGO FILME FOME
FILME FALA FILME ATO FILME HISTÓRIA
fagulha fagocitada pela lente pouco digestiva
de um Glauber doente e inconsciente o mais sábio
GLAUBER FOGO GLAUBER BERRO ROCHA PENHASCO
de sabiás em sabiás, nossa terra se desfez
ESTAMOS SECOS ESTAMOS FAMINTOS ESTAMOS COLONIALIZADOS.
DESORDEIRO SEGUE BRAHMS
O DEMÔNIO SPEAKS ENGLISH
diante da gente.
domingo, 18 de maio de 2008
Senhor José Mojica
Aquele Senhor José Mojica tinha unhas estranhíssimas, amareladas, não importa. Por fim ele assinou sobre a foto de "À meia-noite levarei sua alma" do livro Cinema Marginal da biblioteca, nem meu era. Queria ter falado mais, incitado mais, dito sobre Glauber Rocha, Cinema Novo, Cinema Margina, Vanguarda, Gênero de Terror, Cinema Contemporâneo Brasileiro, Meios de Produção Cinematográfico... blá blá blá... Ce ça. Vou editar as imagens.
sábado, 17 de maio de 2008
En el cielo
y mi rastro preso en sus ideas
en su imaginación,
mi amor y mi corazón
son tuyo
y tudo en mi cuerpo
deshace ahora
cuando pienso en usted
cuando veo usted
cuando soy usted.
A SANTA PELADA

Quinta foi engraçado, o ensaio começou com notícias não tão boas, pessoas saíram, as cenas teriam de ser reformuladas, enfim, tinha tudo pra ser um ensaio sem força, mas não.
David, Anna e eu estávamos presentes, completamente enraizados naquele chão, esperando só o momento de podermos nos despir de pensamentos externos e começarmos a atuação, a entrega, a resistência. O exercício inicial foi uma espécie de mantra atuado, uma Ave-Maria diferente, sentida, os corpos mexendo de acordo com cada palavra, cada frase. Sentir e atuar aquilo eram difíceis, em alguns momentos nos perdíamos na reza, na repetição, no espaço. Depois, fui arremessado aos leões. Num cubículo, um cubo de madeira, tinha de conter meus movimentos e fazer uma cena, pensar numa cena, em palavras, em gestos, não podia parar. O que veio espantou-me, as palavras, a cena: a santa pelada surgiu como quem surge vestida, discreta, depois me tomou o corpo, o pensamento, repeti várias vezes até conseguir um grau de entrega e de concentração que eu jamais imaginava. Sentia-me envergonhado, tal qual o personagem, castrado por me mostrar ali, diante deles, toda minha fraqueza em dizer: “eu era uma santa, uma santa pelada, que mostrava o peito, que se mostrava toda pra todo mundo”. E eu dizia, eu ria, eu me entregava, um cansaço começou a me tomar, e quando parecia rendido e morto, David introduziu a Anna na cena, fizemos tudo com os corpos, com as falas, com a santa.
Rolávamos no chão e esculpíamos imagens belas, mãos entrelaçadas, abraços findos, olhos concentrados. David nos guiava diante de nossas permissões, diante de nossos desmembramentos, diante de nossas loucuras. Confiantes, produzíamos imagens pictóricas, falas esparsas. Revezávamos na santa, mas éramos um só corpo, um só pensamento.
No final, acabou que foi uma criação interessante. Apesar dos pesares, estamos empolgados e queremos continuar. O palco permanece. Permanecemos inertes no estado de entrega, a soltura de nós mesmos nos traz ao compromisso e ao deleite que só nós nos permitimos. Estamos diante de nós mesmos, fonte de arte e de criação.
CÉUS SÂNDALOS ESCÂNDALOS VERMELHOS
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Venus sola
como yo, ella estaba
tan modesta una estatua
sus ojos mares buscándome
sus manos caritativas serpientes
estaba como estaba
Venus atenta, Venus triufante
delante de mi mirada
ella y yo estábamos
en la noche vacía
con los dolores del cielo negro
aunque nosotros llenos
de ternura, mi cariño
de esperanza, mi aurora
no hay hora que no la veo
así: Venus sola, mi mirada.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
porque não amou...
amores e amantes que vêm e vão no vão do seu peito o mesmo receio
de ser sozinho quando anda calmo e perdido nas avenidas sem rumo
e por uma olhadela no céu vê que seu é nada e que tudo que tem é ausência
ao seu lado a ausência atrás a ausência na frente a falta que tem
quisera ficar permanecer e estar sempre com alguém que pudera dizer:
eu amo você nunca vou te deixar não há porque temer esse amor é você
que me traz e me faz ficar humano e de coração eu o amo com ternura,
essa doçura de afeto foi pro ralo, nem é feto daquilo que poderia ser paixão
e em seu coração que ficou foi descrença, que matou foi cansaço,
que o tornou um velhaco rabugento e reclamão,
todo dia acorda cedo, chora e chora, sem receio,
mergulha na mais profunda solidão de velhice,
traz pra gente a bizarrice de ser o não ser
é todo casulo, vai morrer nulo porque não amou.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
VEIAS E ESTADOS

estamos IN RAINBOWS

Estamos IN RAINBOWS, toda contemporaneidade precisar estar IN RAINBOWS, porque é o contato direto com o inexplicável, o que essas faixas podem fazer com a gente, um TRANSE, IN RAINBOWS traz pra gente toda forma de contato consigo, é incrível como me sinto IN RAINBOWS e a gente não cansa, a gente se casa com a melodia, todas as letras, e batidas, o coração. É arte pura moderna, dá pra fazer um filme em cima de cada faixa, ontem andando sozinho, voltando do ponto de ônibus, ouvindo a faixa 2 no discman, e de repente tudo fez sentido, vi um videoclip na minha frente, meus olhos cortavam as imagens, e tudo fazia sentido, sensação incrível, um cachorro no ritmo, se esfregando no chão duro, depois luz baixa, sol indo embora, um casal de namorados, crianças pulavam no ritmo da música, da melodia, pode? Eu não sei explicar. Estou em contato íntimo e direto comigo mesmo depois de ouvir esse cd. Fazia tempo que algo não me sensibilizava tanto...
domingo, 4 de maio de 2008
Rosas brancas e calafrios
e choram as rosas de Cartola
as flores em branco
enfeitam de vida minha estante de divagações
meu instante de encantamento constante.
Flor que não é árvore
no teu roseiral já resolvido
pétalas em branco
sacralizadas na pureza das cores e dos cantos
rosa flor toda nua despedida de seus pudores
deixou a solidão do poeta
pra viver no cerno da compaixão e do carinho
doce ninho.
Flor que não é pássaro
decompõe-se à luz do sol, a interface de todos os amores
num degradê à mercê de desejos ocultos
revelados em cada passo em falso
compassos humanos em silêncio
e a vontade de voar.
Melodia, tom, sobretom, e sobretudo
quando desfaz-se o cantar do grilo
impoe-se no sereno do teu íntimo,
toda a graciosidade da rosa que se assume flor
sutilezas brancas primaveris
que faz ecoar desejos e calar de vez o frio"
Luís Lima.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
todo o gozo
segunda-feira, 14 de abril de 2008
De acordo com o desacordo
tudo vai bem
tudo vai bem toda forma de esquivar-se e adentrar a um silêncio perturbador:
tudo vai bem todo desequilíbrio financiado por sua histeria quieta:
tudo vai bem toda forma de me ater a seu alter-ego, e me machucar:
tudo vai bem todas estradas espinhosas para entradas no seu universo de efígie:
tudo vai bem percorrer manco e cego, desejoso de verdades estranhas e instigantes:
tudo estará bem.
eu precisei da sua verdade
abjeto
À espera de resposta
que não vem, que não vem
e o que tem em corpos adjuntos
todo o desejo, em segundo esvai-se
a nova forma de esperar
é castrar os olhos e o peito
perjurar e mentir
sossegando o infinito no corpo
e a cabeça girando girando girando.
em luzes que se apagam.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
eu preciso da sua verdade
palavras perduram toda noite em pensamentos
não falo, não ouso falar.
peitos perdidos pela temporalidade da noite,
eu e você contemporâneos e afastados.
a soterrarmo-nos de questionamentos e análises
e onde fica o sentir?
e onde fica a luz?
no breu, o coração não se confunde com o olho
e pupilas fechadas eu penso melhor.
e sinto melhor.
Eu preciso da sua verdade
agora é crucial.
segunda-feira, 31 de março de 2008
ABRAÇA
braços entrelaçados que se acalmam um com o outro quanto tudo é guerra
dedos juntos já se encontram no breu, olha que vem aurora, despedida
embaraçados amantes melhoram seus humores e suas dores caem ao chão
já se vêem mãos partindo, uma e outra se calam subitamente.
Vem a saudade.
Campo Aberto
quinta-feira, 27 de março de 2008
a mise-en-scène casual
terça-feira, 18 de março de 2008
segunda-feira, 17 de março de 2008
Tout va Bien

domingo, 16 de março de 2008
extra-humano


segunda-feira, 10 de março de 2008
Dos rins e do coração (2008)

domingo, 9 de março de 2008
Amarelo crepuscular
Transcrito do caderno exclusivo para minha posteridade e intimidade
tortuosos nos anseios
calados falam músicas
pegam táxis madrugadas
são os corpos da solidão.
A vacuidade constante
você sabe é amante
do que é fugidio
então eu penso em você
eternidade
e desejo em você
eternidade
e sinceridade, você
eternidade
para que nós sejamos
a mais bela verdade
dos últimos tempos
nessa cidade
que passa.
Hey Steeeella
http://www.youtube.com/watch?v=S1A0p0F_iH8
quarta-feira, 5 de março de 2008
Hiroshima, mon amour
sonhos passados e lembranças eu desejaria que ficassem
mas toda e qualquer forma de opressão
parece ser a mim remetida.
estou diante de meu corpo nu,
desmanchado, manchado com suas palavras
eu me vi diante da vacuidade a que era inserida quando olhava retratos
pernoitei nostálgica nas memórias do meu soldado
e soldei ferros e grades ao meu redor
não via mais nada
não era mais nada
a não ser Nevers
e com você eu podia ser banida de mim mesma,
em Hiroshima.
domingo, 2 de março de 2008
899552379-9982-3326. 39. 2 96 3 00065 6 3
Poesia ardida
Toda vez que venho sua face meio iluminada
eu sinto uma vontade de tocá-la com meus dedos,
já acordou agora e meus lábios são duros e secos,
estou e não estou com você.
Já se fez o tempo de sentir vontades,
você vai ao supermercado comprar o quê?
Eu vou com você
no meu silêncio cheio, no meio da caminho
revejo seus olhos, não há nada mais bonito.
E se entardecer rapidamente
nos enlouqueceremos no carpete
e seremos dois esquecidos
os ponteiros podem até quebrar
não há porque notar o tempo.
E se anoitecer vagarosamente
a gente se encanta com a nuvem que vem
a gente não vai sair essa noite, a gente se aproveita
e a lua é o abajur da rua, e você nunca reclama da minha vaguidão.
Nem hoje nem amanhã
pegaremos estação para ir a lugar algum
eu e você quereremos ficar.
nem hoje, nem amanhã, nunca direi
Nem hoje, nem amanhã, nunca direi o quanto te amo.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
longos versos querem dizer a coisa mínima: que não posso falar agora.
não receio a solidão
mas eu prefiro você.
Na televisão barulhenta
o som esvai dos meus ouvidos
e sua voz é a que fica
sua fala é a que se demora
e eu não me demoro a acostumar.
Trouxe um pouco de esperança
a espera não arde tanto
à espera, tudo se prolonga
estou longe e concentrado em longos versos.
Verseja o momento em que nos vemos
estamos e não estamos na mesma contemporaneidade
há um fio tênue para você se dispersar
e me dispensar como quem não quer mais saber,
pode ser, a vida é longa o suficiente.
Na televisão barulhenta
o que se passa é o que passa
o que não passa é a memória sua
melhorada em minha idealização
talvez seja a ação mais estúpida minha
mas eu me permito.
Dizer, dizer,
não estou pronto para estar entregue
o estado de espírito varia, você deverá saber
que a sua monossilábica resposta
não me afasta dos toques prováveis,
e minha imprevisibilidade vai além
do que você poderá crer.
Sua, a minha distância
é a primeira instância
de muitos momentos
pode ser que tudo se dilua
mas não acaba.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Tropeço
tarântulas em teias
perambulam pelo pó
tantas velhas vêem
o que se foi
defronte o que é.
Paredes paradas
fios de memórias em porta-retratos que nada retratam.
Paredes paradas
suas veias sobem suas pernas como trepadeiras em troncos.
Paredes paradas
você, senhora, sonha em ser o quê?
A morte mansa,
responde cru.
Tantas velhas viagens
tantas médias passagens
tantas pedras pisadas
tantos pares de pôres,
tantos amores findos
tantos sonhos falidos
tantos peitos ocos
tantos poucos desejos
hoje a velha tropeça na sua esperança
e morre de tédio.
O homem moderno dissipado após uma crise de sentimentos, ou então, a sentimentalização do seu relógio, ele ficou prá trás.
toda sua expressão emudeceu
toda sua feição embraqueceu
e eu me tornei refém da sua vacuidade.
tudo é o todo branco no seu corpo
e a gente se despede da pigmentação de sua fala
a gente tropeça no estranhamento que me causa o seu discurso
e tudo continua anulado em seus beijos embebecidos de nó.
os seus olhares que é que são?
novas formas de constelações mortas
e rosas em roseiras arrancadas por um jardineiro vil.
o que eu estou te falando é que você é feito de cor sépia
o furta-cor das suas mãos já não toca mais nada
e você, homem niilista foi engolido por palavras sem valor
e tudo ao seu redor é nada...